Título: Folga no abastecimento, estoques altos e câmbio impedem alta das cotações
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

Nem mesmo a redução na produtividade da safra de soja, causada pela estiagem, deve provocar uma elevação de preço da commodity, pelo menos até o terceiro trimestre do ano, quando entra no mercado a produção dos Estados Unidos, segundo avaliação do diretor da RC Consultores, Fábio Silveira.

"Mesmo com quebra de safra, o mercado continua ofertado", diz. O economista argumenta que o mercado está abastecido e não deverá ser pressionado. Além disso, com a valorização do real em relação ao dólar, a cotação do grão em moeda local se desvaloriza quando convertida de dólar para real.

Em janeiro deste ano, o preço da soja em dólar, de US$ 12,8 a saca de 60 quilos, está 12% acima da cotação em dólar no mesmo mês de 2005. Já em reais, o preço atual, de R$ 28, dessa mesma saca está 24% abaixo do registrado em janeiro do ano passado. "É o efeito do câmbio", diz Silveira.

Ele pondera que, em dólar, o preço de janeiro de 2005 foi o menor em 48 meses. Pelo fato de a base de comparação ser fraca, o crescimento acaba sendo expressivo.

Além da soja, o arroz é outro grão que continua com preços deprimidos por causa da oferta abundante e do estoque de passagem de um ano para outro elevado. "A situação é pior do que a da soja", afirma Rui Polidoro, presidente da Federação das Cooperativas Agrícolas do Rio Grande do Sul, que reúne 64 cooperativas.

Uma saca de arroz está cotada hoje em R$ 20 e o custo para produzir essa mesma quantidade do grão é de R$ 25. Segundo Polidoro, o problema mais sério hoje enfrentado pelos produtores não é a seca, mas o preço baixo do grão e o câmbio.