Título: Ganho de agricultor com safra de grãos será o menor em 4 anos
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2006, Economia & Negócios, p. B1

Real valorizado, dívidas atrasadas e nova estiagem devem encolher a receita do produtor em R$ 3,9 bilhões

Os produtores de grãos devem ter em 2006 mais um ano de descapitalização. A receita com soja, milho, arroz, feijão, algodão e trigo, entre outros, deverá somar R$ 50,3 bilhões, ou R$ 3,9 bilhões menos que em 2005, segundo estimativas preliminares da RC Consultores. Se as previsões se confirmarem, a renda desta safra de grãos será a menor em quatro anos.

Além do real valorizado em relação ao dólar e da dívida em atraso de safras passadas, que beira os R$ 10,7 bilhões, neste ano a seca voltou a castigar as principais regiões produtoras do Centro-Sul do País. Isso complicou o cenário para os grãos, que já não era promissor.

Há áreas plantadas com soja no Centro-Oeste que ficaram sem chuvas durante 20 dias seguidos num período crucial para a lavoura, que é o da formação dos grãos. No meio-oeste catarinense, por exemplo, onde predomina o milho, existem cerca de 50 municípios em situação de emergência, conta o chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Getúlio Pernambuco.

No Paraná, a redução na projeção da safra de verão é de 17,4%, segundo o Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura. Entre soja, milho, feijão, arroz e algodão, as perdas somam mais de 3,8 milhões de toneladas, de uma safra estimada em 21,85 milhões de toneladas.

Ainda não há estimativas globais das perdas de produção provocadas pela estiagem prolongada. Mas economistas especializados em agronegócio dizem que a projeção inicial do governo de colher 123,7 milhões de toneladas de grãos este ano, ante 113,4 milhões de toneladas em 2005, dificilmente será atingida.

Descontados os efeitos da seca, a RC Consultores projeta uma colheita de 118 milhões de toneladas. "A nossa previsão inicial era de 122 milhões de toneladas. Reduzimos para 120 milhões de toneladas por causa da queda na área plantada e, agora, para 118 milhões toneladas em razão da seca", diz o diretor da consultoria, Fábio Silveira. De acordo com a nova previsão, os volumes colhidos este ano voltariam para o nível de 2004.

Também nas contas da CNA, a safra deverá ser menor. A colheita de grãos deste ano deve atingir 115 milhões de toneladas, 7 milhões de toneladas menos que o inicialmente previsto por causa da seca.

"A agricultura de grãos deve continuar no fundo do poço este ano", afirma Antonio Sacoman, coordenador-técnico da Cocamar, cooperativa agroindustrial de Maringá, que reúne cerca de 7 mil cooperados cultivando 294 mil hectares com soja no noroeste do Paraná.

A expectativa do produtor, diz Sacoman, era compensar com a retomada da produtividade para níveis normais este ano os preços baixos da commodity e a defasagem do câmbio, que reduz a receita do agricultor quando convertida em reais. Mas essa estratégia foi por água abaixo com a estiagem que afetou a produtividade. Na região de Maringá, a previsão de colher 2.830 quilos de soja por hectare caiu 10% nesta safra, ressalta Sacoman.

"Este ano, será pior do que 2005", afirma o presidente da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo), Antonio Chavaglia. Segundo ele, os custos aumentaram, especialmente as despesas com frete e pulverizações para combater a doença da ferrugem da soja. Com a queda na produtividade, que chega em 20% nas terras arenosas da região, torna-se inviável recuperar a rentabilidade.

Chavaglia pondera que o maior problema nesta safra foi a irregularidade das chuvas. "A distribuição das chuvas está ruim", confirma a coordenadora da Estação Climatológica Principal de Maringá, Leonor Marcon da Silveira.

Em Mato Grosso do Sul, a quebra na produção de soja gira em torno de 15%, calcula o agrônomo Elder Simm, da Cooperativa Agroindustrial (Coagri), a maior do Estado, que reúne 2 mil produtores de grãos.