Título: Hamas, Iraque e Irã tomam conta de Davos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2006, Internacional, p. A14,15

Ontem no Fórum, autoridades e personalidades discutiram as várias crises do Oriente Médio

A possível formação de um governo palestino liderado pelo Hamas foi um dos assuntos de política internacional que dominaram ontem as discussões no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

Pelos corredores, a maioria dos líderes mundiais demonstrou a intenção de esperar para ver como o grupo responsável por ataques suicidas em Israel vai agir no governo. "A comunidade internacional, dos Estados Unidos ao Japão, os países árabes, e especialmente a Europa, tem dado muito apoio aos palestinos", afirmou o atual ministro palestino da Economia, Mazen Sinokrot. "Nós temos de dar aos novos líderes uma chance e ver o que vai acontecer. "

A questão da redução do número de soldados estrangeiros no Iraque também foi tema de debates. O ministro britânico de Relações Exteriores, Jack Straw, disse ontem que a Grã-Bretanha espera diminuir o número de homens no Iraque, mas apenas quando o governo do país estiver seguro. "Esperamos reduzir as tropas no curso deste ano", afirmou.

Straw não falou em números ou prazos exatos, mas disse que a redução não será em Basra, cidade no sul do Iraque onde fica a base militar da Grã-Bretanha. "Quando as forças de segurança iraquianas em cada província e os aparatos políticos estiverem aceitáveis segundo o governo local, então o plano é retirar soldados. Esperamos fazer isso, em pelo menos, duas províncias até o final do ano." Atualmente, 8.500 soldados britânicos lutam no Iraque .

O presidente da Assembléia Nacional Iraquiana, Hajim Alhasani, e o vice-primeiro-ministro, Ahmad Chalabi, foram chamados a Davos para falar sobre o futuro de seu país e sobre como lutar contra o persistência do movimento insurgente.

O ex-presidente americano Bill Clinton afirmou que os Estados Unidos e seus aliados não devem deixar o Iraque prematuramente e que os esforços para melhorar a situação no país não podem ser abandonados. "Nós não devemos desistir precipitadamente e apenas dizer que não pode dar certo", disse. Sobre a intenção do Irã de retomar a produção de energia nuclear, ele afirmou que todas as opções devem ser consideras, inclusive possíveis sanções da ONU.

Jack Straw descartou uma solução militar para a crise iraniana e defendeu uma "diplomacia intensa". "Não há uma opção militar. Ela não está sobre a mesa", afirmou Straw à rádio BBC. Segundo ele, na próxima semana os esforços diplomáticos se redobrarão com a reunião extraordinária da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). "Espero que os iranianos entendam que existe uma preocupação sobre suas intenções nucleares, não só entre o velho inimigo dos Estados Unidos e os europeus, mas no mundo todo", disse o chefe da diplomacia britânica.

O regime dos aiatolás desafiou a comunidade internacional há várias semanas ao romper o lacre da ONU em algumas de suas usinas nucleares para retomar seus programas de pesquisa e desenvolvimento.