Título: Haniye diz não à 'chantagem'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2006, Internacional, p. A14,15

Líder do Hamas avisa que não cederá à pressão para que grupo renuncie à violência em troca de ajuda financeira

GAZA

Líderes do movimento islâmico Hamas, grande vencedor das eleições palestinas de quarta-feira, anunciaram ontem que o grupo não cederá à "chantagem" da comunidade internacional para que se desarme e renuncie à violência, sob pena de ter cortada a ajuda econômica para a Autoridade Palestina (AP). "Essa ajuda não pode ser uma espada de Dâmocles sobre a cabeça do povo palestino", disse o dirigente do Hamas Ismail Haniye. "Não aceitaremos nenhuma chantagem contra nossa gente, contra o Hamas ou a resistência."

Haniye se referia à ameaça dos EUA de cortar os US$ 234 milhões de ajuda prevista para AP neste ano, caso o Hamas não se desarme e não renuncie à sua plataforma de destruir o Estado de Israel. Líderes europeus também fizeram advertências semelhantes. A União Européia é a maior doadora de recursos para a AP. No ano passado, entregou 500 milhões (mais de US$ 600 milhões) para os palestinos.

Em Damasco, na primeira entrevista coletiva depois da vitória eleitoral, um dos membros da direção colegiada do Hamas, Khaled Mashal, tomou o cuidado de evitar menções claras sobre se o movimento manterá ou não o princípio de destruição de Israel. Embora tenha reiterado a advertência de que "não haverá paz nem segurança enquanto durar a ocupação", pareceu deixar aberta uma porta ao diálogo: "Ainda não nos propuseram nada para que possamos dizer se cooperaremos com ele."

O ministro da Defesa israelense, Shaul Mofaz, descartou ontem qualquer possibilidade de diálogo com o Hamas. Referindo-se à política de assassinatos seletivos de Israel, advertiu que "não haverá imunidade" para membros do grupo que lancem atentados contra israelenses. "O Hamas conhece mais do que ninguém o poder de resposta de Israel", afirmou.

Em resposta às ameaças americanas de corte de ajuda, Mashal ressaltou que "o povo palestino viveu décadas sem a ajuda americana". "Temos certeza de que os países árabes e muçulmanos serão generosos, e não cederão às pressões de Washington."

A Comissão Eleitoral palestina divulgou ontem os números finais da eleição. O Hamas conquistou 74 das 132 cadeiras no Parlamento, e a Fatah, 45.