Título: No TST, Lula diz ser vítima de leviandades e se compara a JK
Autor: Tânia Monteiro e Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2006, Nacional, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu ontem às críticas que vem recebendo de adversários e se queixou de que "muitas vezes predomina a leviandade e o jogo de palavras fáceis, ao invés da verdade", no julgamento dos políticos. Ao participar da cerimônia de inauguração da nova sede do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Lula disse ainda que os homens públicos passam para a história não pelo que fizeram, mas pela imagem que se constrói deles. Para justificar a tese, Lula lembrou que o ex-presidente Juscelino Kubitschek foi criticado durante o mandato e que agora, 50 anos depois, está sendo reconhecido.

As afirmações de Lula foram feitas após discurso em que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, afirmara que o povo brasileiro "quer ver resultados" e que as autoridades no futuro "serão julgadas não por suas intenções, mas pelo que fizeram ou deixaram de fazer". Para Jobim, as pessoas não vão querer ouvir explicações sobre falta de tempo. "Fica na história o que não fizemos e por isso pagaremos", disse o ministro.

Lula, ao responder a Jobim, afirmou que faria uma correção. "De vez em quando enveredamos pelo caminho do julgamento fácil. Não passaremos para a história só pelo que fizemos. Não passaremos pelo que não fizemos, e muitas vezes a história já provou isso. Passaremos para a história por aquilo que alguns mal-intencionados falarem que nós fizemos", disse o presidente.

Em seguida, ele passou a citar dificuldades enfrentadas por JK. "Sabe Deus o que esse homem passou durante o seu mandato de presidente para ser reconhecido 50 anos depois. Isto porque, muitas vezes, predomina a leviandade, ao invés da verdade; porque muitas vezes predomina o jogo fácil das palavras (mais) do que a verdade, que sempre é mais difícil."

O presidente Lula aproveitou também o improviso em seu discurso na solenidade de inauguração do novo prédio do TST, que custou R$ 202 milhões, para elogiar o fato de a obra ser finalizada sem que tenha havido denúncia de desvio de dinheiro público na construção. "Podemos concluir com isso que não se pode julgar um pomar por uma laranja apodrecida", declarou ele, que indiretamente se referia às denúncias de desvios de R$ 169 milhões da construção da sede do TRT de São Paulo, que levou à prisão do juiz Nicolau dos Santos Neto.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Busato, disse em discurso que "o País vive dias difíceis em que a exposição sistemática pela mídia de atos condenáveis de alguns agentes públicos aprofundou perigosamente o desgaste de alguns instituições". Busato, que costuma criticar o Executivo federal, disse que apenas vocalizava o interesse da sociedade. E acrescentou: "Sabemos que a força e a autoridade das instituições do Estado derivam do fator credibilidade."