Título: Pioneiros se reúnem para a festa dos 50 anos
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2006, Nacional, p. A8,9

Sessão solene no Senado e festa vão reunir amigos do presidente

Alguns pioneiros que chegaram a Brasília junto com Juscelino Kubitschek se preparam para comemorar os 50 anos da posse do presidente animados pelo sucesso da minissérie da TV Globo sobre JK. Por causa da televisão, aumentou o movimento no Memorial JK - museu que guarda documentos do estadista e é uma espécie de QG dos pioneiros.

"Houve um período em que a era JK não fazia parte do currículo escolar e agora recebemos telefonemas de todo País, principalmente de jovens", festeja Cirlene Ramos Luciano, ex-secretária da família Kubitschek e atual diretora cultural do memorial.

Na terça-feira, os pioneiros irão ao Senado, onde haverá sessão solene em comemoração ao cinqüentenário da posse. Depois, no memorial, se reúnem para uma confraternização. O memorial tem um mausoléu, onde estão os restos mortais de Juscelino, um museu, com peças e documentos que mostram as principais passagens da vida e da obra do presidente.

Quando falam do período que viveram ao lado do presidente, os pioneiros se emocionam. Cirlene conta que Juscelino lhe dizia: "Você é muito nova, mas precisa saber que está vivendo um momento histórico da vida do País e tenha certeza de que um dia o seu trabalho será reconhecido e todos vão lhe conhecer." Hoje, aos 69 anos, ela avalia: "Ele tinha razão, estou fazendo parte da história. Estarei no capítulo 40 da minissérie."

Era na casa do primo Carlos Murilo, morador do Lago Sul, bairro chique de Brasília, que Juscelino ficava sempre que vinha à cidade na década de 70, depois de retornar do exílio. Carlos Murilo, de 77 anos, lembra a determinação de Juscelino, de quem foi oficial de gabinete. "Nos últimos três dias em que esteve em Brasília, ele dizia que seu sonho era redemocratizar o Brasil para que o povo pudesse voltar a escolher seus governantes", recorda.

Os pioneiros são unânimes nos elogios à minissérie e debatem com desenvoltura a tese jamais comprovada de que JK, morto num acidente de carro, em 1976, na verdade foi vítima de sabotagem. Um dos colaboradores do presidente, o coronel Affonso Heliodoro dos Santos, que completa 90 anos em abril, não tem dúvida: "Para mim, ele foi assassinado e só depois que passar muito tempo isso vai ficar provado."

Uma das maiores amigas de JK, Vera Brant, que não revela a idade, concorda e exalta o presidente: "Num momento em que há um vazio de lideranças no País, a figura de JK se destaca e podemos comprovar isso ao ver a minissérie, que veio para reavivar a memória das pessoas em relação ao brilho especial que ele tinha." Uma das netas de JK, Ana Cristina, reclama do hábito do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de se comparar a seu avô. "Antes de comparar, ele tem de conhecer melhor a história de Juscelino", diz ela, que é presidente do Memorial JK. "Vovô era uma pessoa que prometia e cumpria e isso falta ao Brasil de hoje."