Título: O fascínio pelo amigo vira tese nas mãos de Lafer
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2006, Nacional, p. A8,9

Ex-ministro o conheceu nos EUA, conversou muito mas seu texto só foi publicado depois da ditadura

Estudioso do governo Juscelino, o professor Celso Lafer conviveu com JK no final dos anos 60 e manteve com ele longas conversas até seus últimos dias. Recentemente Lafer colaborou para a reconstrução da etapa final da vida do estadista feita por Alcides Nogueira, co-autor da minissérie JK, da Rede Globo. O professor - que foi ministro das Relações Exteriores no governo Fernando Henrique - passou a acompanhar a minissérie religiosamente.

"Juscelino era fascinante, encantava todo mundo", diz Lafer, que o conheceu quando fazia doutorado na Universidade de Cornell, nos Estados Unidos. Entrevistou inúmeras vezes o presidente em Nova York, onde JK vivia exilado durante o regime militar. Os depoimentos contribuíram para a conclusão da tese "JK e o Programa de Metas (1956-1961) - Processo de Planejamento e Sistema Político no Brasil", um dos mais completos estudos sobre o período.

Impublicável durante os governos dos generais, a tese permaneceu inédita até 2002, quando foi editada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Os contatos entre os dois prosseguiram depois que JK retornou ao Brasil, até sua morte em 1976. Dessa época, Lafer guarda a imagem de fascínio e encantamento que o presidente proporcionava a seus interlocutores e ainda uma relíquia: a carta que Juscelino lhe enviou em fevereiro de 1972, do Rio de Janeiro.

"Preciso vê-lo pessoalmente. Quando vier ao Rio, não deixe de me avisar. Ainda não tive o prazer de tê-lo em torno da minha mesa, com sua senhora, debatendo afetuosamente os temas que você hoje conhece melhor do que eu", assinalou JK, depois de elogiar o trabalho de Lafer e antes de enviar-lhe um "grande e cordial abraço".

Em 2002, o ex-chanceler participou da comissão que organizou as celebrações dos 100 anos de nascimento de Juscelino. Na ocasião, ouviu de Maria Estela, filha de JK, que seria o melhor orientador para os trabalhos por causa da afinidade entre os dois.