Título: Cassação de Pedro Corrêa tem voto até de petista que nega mensalão
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2006, Nacional, p. A8

O Conselho de Ética da Câmara aprovou por 11 votos a 3 o pedido de cassação do presidente do PP, deputado Pedro Corrêa (PE), acusado de ter se beneficiado com o esquema do mensalão. O deputado, que acompanhou a votação no colegiado, deixou a sala afirmando que ganhará a votação no plenário, em um desafio ao resultado desfavorável a ele ontem. A seu favor, teve apenas os votos dos dois deputados de seu partido no conselho, Benedito de Lira (AL) e Sandes Júnior (GO), e o do deputado José Carlos Araújo (PL-BA).

Araújo confidenciou a interlocutores que foi pressionado a votar contra a cassação porque o PL não poderia recuar no apoio que já havia fechado com o PP.

A aprovação do pedido de cassação era esperada, mas o voto da deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) surpreendeu. Ela vem votando sistematicamente contra os pedidos de cassação, exceto no caso de Roberto Jefferson (PTB-RJ), negando o chamado mensalão - a transferência de recursos para parlamentares em troca de apoio político da base. A deputada se negou a justificar o motivo de seu voto. Sua posição, no entanto, sinaliza para o seu parecer. Ângela é relatora do processo de cassação do líder do PP, José Janene (PT), que, entre outras acusações, também é responsabilizado, assim como Corrêa, pelo recebimento por parte do PP de dinheiro do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.

De acordo com Marcos Valério, foram repassados R$ 4,1 milhões ao PP. Corrêa, no entanto, só admite que o partido recebeu R$ 700 mil - usados, segundo ele, para pagar o advogado Paulo Goyaz, que defendeu o ex-deputado Ronivon Santiago (PP-AC) em processos na Justiça Eleitoral.

"SANGUE"

O relator do pedido de cassação, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), questionou o fato de Corrêa não ter registrado o recebimento do dinheiro de Valério. "Por que não levar ao registro o ato nobre de socorrer o deputado?" Sampaio insistiu em que a relação entre os partidos não pode ser pautada pelo dinheiro e que houve uma relação espúria entre o PT e o PP. "A relação espúria que se deu mostra que o PT e o PP, ambos envolvidos, tiveram o cuidado de não levar a registro o repasse, para evitar transparência."

Em uma atuação considerada teatral por muitos conselheiros, o advogado de Corrêa, Eduardo Ferrão, afirmou que havia a decisão política de cassar o presidente do PP. "A mídia quer sangue. Se não tiver sangue vai dizer que foi pizza e para não parecer que foi pizza terão de cassá-lo", afirmou Ferrão. O advogado insinuou que o relator estivesse buscando notoriedade ao pedir a cassação de Corrêa. Houve um início de bate-boca entre Sampaio e Ferrão, interrompido pelo presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP).

CPI

Não é a primeira vez que Corrêa é envolvido em escândalo na Câmara. Em 2004, o presidente do PP foi citado no relatório final da CPI da Pirataria sob suspeita de envolvimento com Ari Natalino, que foi preso por sonegação fiscal e adulteração de combustível e era suspeito de comandar uma rede de contrabando de cigarros do País. O então relator da CPI, deputado Josias Quintal (PSB-RJ), chegou a declarar na época que havia indícios para abertura de processo de cassação do mandato de Corrêa. O caso foi para a corregedoria da Câmara, mas acabou arquivado.

Corrêa é o terceiro presidente de partido sob risco de perder o mandato depois do início do escândalo do mensalão. Roberto Jefferson, que presidia o PTB e denunciou o esquema, foi cassado pelo plenário da Casa e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP), renunciou ao mandato para fugir do processo de cassação.