Título: Israel corta repasse de impostos à Autoridade Palestina
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2006, Internacional, p. A17

Israel suspendeu ontem o repasse mensal de impostos alfandegários arrecadados para a Autoridade Palestina (AP), por causa da vitória do grupo radical Hamas nas eleições legislativas da semana passada nos territórios palestinos. O porta-voz do governo israelense, Ranaan Gissin, disse que por enquanto, conforme decisão do primeiro-ministro interino Ehud Olmert, não será feito nenhum pagamento porque o Hamas "é um grupo terrorista". Com isso, a AP, que esperava receber ontem US$ 55 milhões, teve de recorrer a países árabes. Segundo um funcionário palestino, a Arábia Saudita e o Catar teriam prometido um envio emergencial de US$ 33 milhões ao governo palestino.

Os impostos alfandegários recolhidas por Israel para a AP são a principal fonte de financiamento do orçamento palestino. O dinheiro, que era transferido no dia 1.º de cada mês, é usado para pagar os cerca de 140 mil funcionários do governo palestino. "Israel tem de liberar o dinheiro imediatamente, porque é nosso dinheiro", disse o ministro da Economia da AP, Mazen Sonnoqrot. Ele disse que a suspensão é uma "punição coletiva e ilegal" que pode afetar até 1 milhão de palestinos. "Isso pode causar o caos", advertiu.

Num sinal das dificuldades financeiras da AP, a companhia elétrica de Israel ameaçou cortar o fornecimento de energia para Gaza a não ser que o governo palestino pague a conta, informou ontem à noite a agÊncia israelense Itim. A agência não deu detalhes.

Além de buscar ajuda árabe, a AP estava tentando conseguir verba do Banco Mundial (Bird). Mas a instituição financeira anunciou ontem a retenção do pagamento, referente a dezembro, de um fundo de ajuda internacional, porque o governo palestino não cumpriu metas de reforma fiscal fixadas pelo organismo. Num informe, o Bird afirmou que o orçamento da AP está cada vez mais insustentável por causa de gastos "incontidos", principalmente referentes à contratação de funcionários e grandes aumentos salariais.

Os EUA, a União Européia, a ONU e a Rússia também ameaçam cortar a ajuda internacional à AP se o Hamas, responsável pela morte de centenas de israelenses e definido como terrorista pelo governo americano, formar governo sem abandonar as armas nem reconhecer o direito de existência de Israel. Só a UE enviou US$ 570 milhões aos palestinos em 2005. Procurando tranqüilizar a comunidade internacional, um líder do grupo fundamentalista, Mussa Abu Marzuk, disse ontem que poderá ser renovado seu cessar-fogo com Israel, em vigor há um ano. Mas rejeitou a exigência de desarmamento e reconhecimento de Israel, reiterada na véspera pelo presidente americano, George W. Bush. "Essas condições não podem ser acatadas e o presidente americano deveria aceitar a realidade, porque o povo palestino exerceu sua escolha democrática, com mecanismos que são basicamente ocidentais, e escolheu o Hamas", afirmou Marzuk.

Um funcionário próximo do presidente da AP, Mahmud Abbas, negou ontem rumores de que este estaria exigindo que o Hamas reconheça Israel para pedir formalmente ao grupo que forme o próximo governo palestino. Mas, segundo o funcionário (que foi citado pela agência Reuters, mas não quis ser identificado), Abbas insiste que o futuro governo precisa respeitar os acordos existentes com Israel.