Título: Hamas vai buscar apoio de Lula
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2006, Internacional, p. A17

O Hamas, movimento islâmico que ganhou as últimas eleições da Autoridade Palestina, informou ontem que ministros e representantes de sua direção vão procurar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Brasília em busca de apoio financeiro e político para o novo governo palestino.

O porta-voz do Hamas, Samy Abu Kuhri, disse que, embora esteja ainda muito ocupado, o provável futuro primeiro-ministro, Ismael Haniye, pode até mesmo chefiar a comitiva palestina.

"Se Haniye não puder ir ao Brasil, outros líderes do Hamas irão, e a outro países da América do Sul", disse. Abu Kuhri acrescentou que os embaixadores palestinos já iniciaram um trabalho de proselitismo favorável ao Hamas junto aos governos desses países.

Abu Kuhri, ex-professor de história na Universidade Islâmica em Gaza, disse que os representantes do Hamas pretendem não apenas conversar com o presidente brasileiro, como também com os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Argentina, Néstor Kirchner, e da Bolívia, Evo Morales, recém-empossado.

"Vamos a esses governos não com nossos embaixadores nesses locais, mas com ministros e líderes do Hamas para demovê-los da idéia de que somos terroristas e mostrar que o problema é a ocupação israelense. Vamos deixar clara nossa posição. Esses países precisam apoiar a Palestina", disse.

O Hamas resolveu iniciar uma ofensiva diplomática em todo o mundo, explicou o porta-voz, acrescentando que os principais governos de esquerda ou aqueles supostamente antiamericanos, como os da Venezuela e da Bolívia, não ficariam de fora.

Ele afirmou que, além de obter o apoio político para a causa palestina, a idéia é convencer esses países a investirem, bem como suas empresas, na Faixa de Gaza. Mas sem que isso, segundo o porta-voz, acarrete qualquer interferência externa na luta contra Israel.

Pouco realista, ele disse que esses investimentos de empresas estrangeiras viriam mesmo em caso de o conflito com Israel continuar. O Hamas já conseguiu apoio financeiro e político da Arábia Saudita, Kuwait e Catar, afirmou o porta-voz.

Ontem mesmo, o Hamas enviou ao Egito quatro representantes, mas eles não foram recebidos pelo presidente Hosni Mubarak.

O líder egípcio deseja primeiro que o Hamas dê sinais claros de que a democracia não foi somente um meio de o grupo chegar ao poder . Na quarta-feira, Egito e Jordânia endossaram os apelos do Ocidente para que o Hamas reconheça Israel e renuncie à violência.

Como conseqüência da vitória do Hamas, os EUA e a União Européia ameaçam suspender a ajuda financeira à Autoridade Palestina, com receio de que o dinheiro seja usado em ações terroristas contra Israel. Em entrevista exclusiva ao Estado, Abu Kuhri declarou, na quarta-feira, que não condenará a Jihad Islâmica ou qualquer outro grupo palestino que resolva atacar Israel com homens-bomba ou armas convencionais.

O Hamas está seguro de que a comunidade internacional acabará apoiando o grupo no governo, disse ele, que garantiu não existir nenhum artigo no estatuto ou Constituição do Hamas pregando a destruição de Israel.

"Essa é uma grande mentira. Faz parte da campanha de difamação da mídia contra nós. O que não aceitamos é a ocupação", disse.

O que analistas políticos na região avaliam é que agora o Hamas pode provar o contrário desde que abandone as armas e aceite, sem condições, as regras do jogo democrático.