Título: Série a mais confunde os alunos
Autor: Renata Cafardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2006, Vida&, p. A21

Lucas Gomes, de 7 anos, pulou a 1ª série e acha que "cresceu". Laís Pirozzi, de 10, descobriu que estava no 6º ano e comemorou. "Estou mais perto da faculdade." Já Fernanda Rebello, de 12, reclamou de ter de trocar todas as etiquetas que diziam 6ª série nos cadernos que preparou para a volta às aulas; foi avisada que fará o 7º ano. Ontem, no primeiro dia do calendário escolar em muitos colégios da capital, pais e alunos se esforçavam para entender a nova lei que amplia em um ano a duração do ensino fundamental no País.

Ela foi aprovada na semana passada pelo Senado e deve ser sancionada neste mês pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ensino fundamental - que ia da 1ª à 8ª séries - terá agora nove anos, indo até a 9ª série. Só que a ampliação ocorre no início do ciclo, com a inclusão das crianças que têm 6 anos e até então eram matriculadas nas pré-escolas. As redes públicas e particulares de todo o País têm até 2010 para se adaptar à lei, mas há escolas particulares que resolveram mudar já neste ano.

O que elas fizeram foi passar as crianças de 6 anos para o ensino fundamental e pular em uma série - apenas numericamente - as que já estavam matriculadas. Isso porque o currículo não mudou. O que era ensinado na 8ª série agora ocorrerá na 9ª série, o que era da 7ª será conteúdo da 8ª, e assim por diante. A nova 1ª série terá proposta pedagógica semelhante ao que era dado no último ano da pré-escola, com alfabetização.

"Ai, que azar", disse Victor Hoshiko, de 6 anos, ao descobrir que seu colégio, o Magister, passou a ter um 9º ano. Só ficou mais tranqüilo depois que a colega Bianca de Oliveira explicou que não haveria um ano a mais de estudos e era por isso que tinham "pulado" a 1ª série e ido da pré-escola direto para a 2ª. "Parece que a gente cresceu", completou Gustavo Souza, também de 6 anos. Rafael Rodrigues, de 13 anos, não pôde reclamar da novidade. No ano passado, repetiu a 7ª série e agora fará o 8º ano. Mesmo conteúdo, mas novo nome.

Além da lei federal, no Estado, um parecer pede que não haja mais a denominação por série e sim por anos.

CONFUSÃO

Ontem, na hora da saída na Escola da Vila, no Butantã, o editor Ricardo Pirozzi, pai de Laís, também se questionava se a filha Laís teria de estudar um ano a mais. Como a mudança é recente, nem todos os pais foram avisados do que ocorreria. A filha saiu desnorteada do primeiro dia. "Estou na 5ª série, mas falaram que é 6º ano", disse.

Na sala de Fernanda Rocha, de 14 anos, uma ajuda. A porta trazia a inscrição: "8ª série (nome antigo) - 9º ano (nome novo)." "Está meio confuso", disse o colega Felipe Catalani.

REDE PÚBLICA

A mudança é quase uma unanimidade entre educadores porque vai garantir que crianças de 6 anos sejam matriculadas na escola, já que apenas o ensino fundamental é obrigatório de ser cursado e oferecido no País. A exigência atinge mais a rede pública de ensino, que muitas vezes não têm vagas suficientes para atender esse público. Já as crianças que estão nas particulares normalmente começam a estudar por volta dos 3 anos.

O ensino fundamental de nove anos já existe em muitos países da América Latina e nos Estados Unidos. Algumas redes públicas brasileiras também fizeram a mudança antes da lei federal e já há 8 milhões de alunos cursando o novo modelo.

O Ministério da Educação (MEC) começou nesta semana a enviar kits e informativos às 300 mil escolas de ensino fundamental do País para orientar o que fazer para se adaptar à lei.