Título: Queixosos têm pouco peso na economia
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2006, Economia & Negócios, p. B1

Os setores argentinos supostamente atingidos pelas hipotéticas "invasões" de produtos brasileiros representam menos de 5% da balança comercial entre os dois países. No entanto, apesar do pouco peso real na economia argentina, os setores empresariais envolvidos são hábeis em espernear para pressionar o governo.

Desde 1999, a União Industrial Argentina (UIA) tornou-se o principal foco dos pedidos protecionistas contra os brasileiros. Em dezembro daquele ano, a UIA emitiu um comunicado afirmando que os benefícios fiscais aplicados pelos municípios e Estados brasileiros estavam causando um êxodo de empresas argentinas para o Brasil.

Segundo a entidade, esse êxodo teria levado uma centena de pequenas e médias indústrias do país para o outro lado da fronteira, aumentando o desemprego do lado argentino. No entanto, a UIA nunca apresentou esse relatório em público. Meses depois, admitiu que ele jamais existiu.

Em 2001, a UIA voltou à carga, estimulando duas dúzias de setores empresariais a exigir do governo do então presidente Fernando de la Rúa (1999-2001) medidas contra a entrada de produtos brasileiros. Na ocasião, a UIA convocou boicotes contra as importações Made in Brazil.

Porém, nunca conseguiram o apoio dos consumidores argentinos, que continuaram comprando os produtos brasileiros.

Com o governo Kirchner, que tomou posse em maio de 2003, a UIA recuperou poder de lobby, já que "El Pingüino" (O Pingüim), como é conhecido popularmente, tem como bandeira política a proteção da indústria nacional.

Os analistas políticos sustentam que a pose de "durão" de Néstor Kirchner garante o respaldo dos setores mais nacionalistas do eleitorado. O presidente já está de olho na possibilidade de um segundo mandato, que poderia ser obtido nas eleições presidenciais do ano que vem.