Título: Para Lula e Kirchner, acordo traz otimismo ao Mercosul
Autor: Ariel Palacios
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2006, Economia & Negócios, p. B1

Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner comemoraram ontem a conclusão das negociações das salvaguardas no comércio bilateral entre o Brasil e a Argentina como um compromisso para aprofundar o Mercosul. Os elogios dos presidentes ao acordo e ao fato de ambas as delegações terem cumprido o prazo definido, de 31 de janeiro, foram trocados durante um telefonema de Kirchner a Lula. Na conversa, os dois presidentes confirmaram que se encontrarão pessoalmente em março, em Mendoza (Argentina), para uma nova reunião tripartite, que agrega também o presidente Hugo Chávez, da Venezuela.

De acordo com nota divulgada ontem pelo Itamaraty, Kirchner afirmou ao presidente brasileiro que "o acordo representa uma mensagem de otimismo para o futuro do Mercosul". E Lula disse ao colega que estava "satisfeito com a demonstração dada, pela Argentina e pelo Brasil, de como o Mercosul vem se fortalecendo sob os ângulos político, econômico e comercial".

Concluído nas primeiras horas de 1º de fevereiro, em Buenos Aires, o acordo que criou as salvaguardas ganhou novo nome, Mecanismo de Adaptação Competitiva (MAC), em substituição à Cláusula de Adaptação Competitiva (CAC). Trata-se de uma idéia defendida pela Argentina desde 1999, depois da mudança da política cambial brasileira e da desvalorização do real, sob o pretexto de impedir a "invasão" de produtos brasileiros no mercado argentino.

Adormecida por cinco anos, a proposta foi retomada pelo então ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, em meados de 2004, na mesma época em que ele assinou uma série de restrições às importações de produtos brasileiros. Desde então, o governo brasileiro vinha toureando as exigências argentinas, convencido de que as salvaguardas - qualquer que fosse o seu nome - seriam um retrocesso para o Mercosul. A rigor, as salvaguardas vão ferir o livre comércio entre os principais parceiros do bloco.

Lula e Kirchner, entretanto, desconsideraram essas premissas e se concentraram no suposto êxito do acordo. Desta vez, justificado em Brasília como uma concessão do Brasil em favor do processo de reindustrialização da Argentina. Na conversa por telefone, os presidentes mostraram-se orgulhosos de suas equipes de negociadores. Mas Lula foi um pouco além. Disse que o resultado das negociações, além de beneficiar o Mercosul, "reforça sua convicção de que o fortalecimento das relações entre Brasil e Argentina contribui para a integração da América do Sul".