Título: Lobby pelo padrão europeu de TV expõe vantagens
Autor: Isabel Sobral e Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2006, Economia & Negócios, p. B5

Os europeus engrossaram ontem o lobby para a escolha do seu padrão de TV digital pelo Brasil. A comissária européia para a Sociedade da Informação e Comunicações, Viviane Reding, passou o dia nos principais gabinetes da Esplanada dos Ministérios a fim de de se contrapor à pressão do ministro das Comunicações, Hélio Costa, em favor da tecnologia japonesa.

O presidente do Forum ATSC, representante do padrão americano, Robert Graves, disse que a Globo é a principal interessada no padrão japonês. Os americanos também tentam vender sua tecnologia.

Hoje, será a vez dos japoneses, que apresentarão sua proposta a Costa e aos ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, da Fazenda, Antonio Palocci, e do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Ainda esta semana, passarão por Brasília os americanos.

A principal vantagem apresentada pelos europeus foi a possibilidade de ganho de escala - a produção de aparelhos para um mercado mais amplo. O vice-presidente da Phillips do Brasil, Cesar Vohringer, afirmou que, se o padrão europeu for o escolhido, haverá condições de produzir rapidamente os aparelhos que convertem sinal digital em analógico, que seriam usados num período de transição. Assim, o início da TV digital seria mais rápido.

"O padrão europeu ainda é competitivo, dependendo, evidentemente, do que ele se propõe a oferecer", desafiou Costa, ao final de uma audiência na Comissão de Educação do Senado, onde novamente deixou clara a sua preferência pelo padrão nipônico. "Espero que eles nos dêem algum outro motivo para pensarmos mais no sistema europeu".

Costa deu as declarações antes do principal contato de Viviane em Brasília, no Palácio do Planalto, com os quatro ministros envolvidos na negociação. Depois da reunião, ele afirmou que as propostas apresentadas pelos europeus são muito semelhantes às dos japoneses. 'As diferenças voltam a ser rigorosamente técnicas", afirmou.

Ele alertou que o governo brasileiro vai exigir dos europeus que façam testes, já feitos pelos japoneses, para provar que seu sistema atende às exigências de permitir a alta definição de imagens, interatividade e, principalmente, portabilidade e mobilidade - a capacidade de receber imagens em aparelhos portáveis como o celular e em movimento. "Nós questionamos a robustez do sinal", disse Costa.

Segundo o ministro, o governo não marcou prazo para os testes, mas deu a entender que terão de ser feitos imediatamente, uma vez que o dia 10 de fevereiro, data prevista para a escolha, está próximo. "Isso é um problema deles", afirmou.

Durante a reunião no Planalto, Viviane Reding apresentou outra suposta vantagem: a exportação de aparelhos de TV produzidos no Mercosul para a Europa seria feita com alíquota zero. Essa isenção, porém, ocorreria no escopo do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Européia, cujas negociações estão empacadas.

PARTICIPAÇÃO

A comissária começou seu dia na Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara. "O modelo é aberto e já conta com a participação de mais de 50 países. Não se trata de um sistema proprietário, de uma única nação, e permite que cada país parceiro desenvolva partes do sistema e os adapte às suas realidades", afirmou a comissária.

Ela informou aos deputados que uma das ofertas a ser feita pelos europeus ao governo brasileiro é a possibilidade de o País participar do conselho gestor que define as políticas de gerenciamento dos projetos de desenvolvimento desse padrão digital. "Trata-se, assim, de um sistema que não é imposto de cima para baixo, mas que cresce de baixo da cima e com a ajuda de todos os parceiros", disse.

Presente à reunião na Câmara, o vice-presidente da Philips ressaltou as vantagens econômicas de se adotar o padrão europeu, mas ressalvou que a indústria de eletroeletrônicos manterá o seu interesse nessa indústria de TV digital, "seja lá qual for o sistema escolhido pelo governo".