Título: EUA eliminam subsídio ao algodão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2006, Economia & Negócios, p. B6

A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou ontem à noite o fim dos subsídios aos produtores de algodão, que já tinham sido declarados ilegais pela Organização Mundial do Comércio (OMC) por distorcerem os preços no mercado internacional após painel aberto pelo Brasil.

No final do ano passado, o Senado já tinha aprovado a medida. Assim que o o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, sancionar a lei, ela entra em vigor.

"A eliminação desse programa de ajuda dá resposta a duas prioridades comerciais americanas", explicou o representante comercial dos Estados Unidos, Robert Portman, em um comunicado.

"Aplica as resoluções da demanda apresentada pelo Brasil na Organização Mundial do Comércio e cumpre as promessas feitas na recente reunião ministerial de Hong Kong para eliminar as subvenções à exportação de algodão em 2006", completou Portman.

PROCESSO

A previsão é de que o fim dos subsídios comece em 1º de agosto. A medida inclui a ajuda dada pelo governo aos exportadores de algodão e às indústrias que usam algodão em sua produção, para que comprem o produto americano, em vez de adquiri-lo de outro país. Essa ajuda faz com que o preço do algodão americano seja um dos mais baratos do mundo.

Portman lembrou que em julho os Estados Unidos já tinham aplicado as decisões de Genebra sobre as garantias de crédito aos produtores de algodão. Em outubro, o Brasil pediu autorização à Organização Mundial do Comércio para impor sanções comerciais de US$ 1 bilhão anuais, alegando que Washington não havia eliminado o programa de ajuda aos produtores, conhecido como "Passo 2", como havia determinado a organização.

Mas em novembro, os dois países chegaram a um acordo para evitar a retaliação.

Pelo acordo, o Brasil manteve o direito de retaliar, mas deu mais alguns meses para que o Congresso dos Estados Unidos fizesse as modificações necessárias no mecanismo de subsídios.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, deixou claro na ocasião que o Brasil poderia voltar ao pedido de retaliação "se for conveniente."

PREÇOS

Os Estados Unidos gastam cerca de US$ 4 bilhões por ano em subsídios à cadeia produtiva do algodão.

Segundo cálculos de especialistas em comércio exterior, o fim dessa ajuda provocará um aumento de aproximadamente 20% no preço internacional do algodão.

Essa alta vai beneficiar principalmente países pobres africanos, como Chade, Mali, Benin e Burkina Faso, cujas economias dependem muito da cultura algodoeira.

O fim dos subsídios ao algodão foi uma exigência da reunião ministerial da OMC em Hong Kong, realizada em dezembro.

O Brasil, o quinto maior produtor de algodão do mundo, poderá dobrar a sua produção anual até 7,2 milhões de toneladas em 2009, segundo previsões da Associação Nacional de Produtores de Algodão.