Título: Governo amplia crédito do BNDES a empresas
Autor: David Leonhard
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2006, Economia & Negócios, p. B8

O governo editou ontem decreto permitindo que as empresas com capital estrangeiro tenham acesso a financiamentos em reais do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para adquirir computadores no programa Computador para Todos (PC Conectado) e para investimentos na área de turismo. Até ontem, grandes redes internacionais de varejo, como Carrefour e Wal-Mart, só tinham acesso a linhas do BNDES, cujas parcelas são corrigidas conforme a variação de uma cesta de moedas estrangeiras.

Agora elas poderão, a exemplo de suas concorrentes nacionais, tomar recursos corrigidos pela variação da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) e utilizá-los para oferecer empréstimos a seus clientes que queiram comprar o PC Popular.

O financiamento corrigido pela cesta de moedas representava um risco para essas empresas, já que a receita delas com a venda dos computadores seria em reais, enquanto a dívida ficaria atrelada às oscilações do câmbio. Esse risco aumentava o custo do consumidor que pretendia adquirir um computador do programa PC Conectado, lançado em 2005 para atender à população de baixa renda.

¿Havia um problema de financiamento para o varejo, porque os mecanismos existentes impediam que nós pudéssemos financiar adequadamente as redes de varejo para que elas repassassem esses financiamentos a taxas concorrenciais para seus compradores¿, afirmou o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. O presidente do BNDES, Guido Mantega, informou que a linha de crédito do PC Conectado é de R$ 300 milhões.

Segundo Furlan, o programa PC Conectado elevou significativamente as vendas de computadores, movimento que, na avaliação do ministro, tende a se acelerar com o acesso à linha de crédito em reais. ¿Nós queremos que os computadores tenham preços e condições de financiamento acessíveis à população de baixa renda. Essa medida vai gerar aumento da produção de computadores e da geração de empregos.¿

TURISMO

Com o decreto, empresas com capital estrangeiro interessadas em investir em turismo também serão beneficiadas. O ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia, comemorou a decisão e afirmou que a medida acontece ¿no melhor momento de nossa história¿, em que vários grupos estrangeiros anunciaram investimentos de US$ 1,5 bilhão no País. A medida beneficia desde a construção de resorts e hotéis até a compra de equipamentos.

Da mesma forma que as redes de varejo, os investidores externos do setor hoteleiro eram obrigados a tomar empréstimos com base em cesta de moedas. ¿Esta equiparação permite que qualquer grupo estrangeiro que queira investir em turismo no Brasil possa fazê-lo com a Taxa de Juros de Longo Prazo, mais a margem que o BNDES cobra do setor. A indústria não terá discriminação¿, afirmou Mares Guia. ¿Eu vejo como um novo horizonte este engajamento do BNDES¿, completou. Segundo Mantega, a mudança ocorre porque o financiamento atrelado à cesta de moedas não é justo para quem tem receita em reais.