Título: Maternidade já não atrapalha tanto a vida profissional
Autor: Marina Faleiros
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2006, Economia & Negócios, p. B18

Patrícia Cavalheiro saiu mais cedo do trabalho, na última terça-feira, para fazer um dos últimos exames pré-natais. Grávida de oito meses do primeiro filho, ela usufrui de uma liberdade antes pouco pensada para as mulheres: "Tenho o apoio da empresa e flexibilidade para viver este momento", conta ela, que é gerente de Controladoria da The Marketing Store.

Seu desafio agora, assim como o de milhares de outras mulheres que hoje estão no mercado de trabalho, é o de conciliar a vida profissional com a pessoal. "É preciso estar muito estruturada para isso e saber que é importante manter um equilíbrio para também ser feliz no trabalho", diz.

Virgínia Guimarães, advogada sênior do Opici, Seixas e Perisse Advogados, cuida sozinha de uma agenda apertada no serviço e de Maria Júlia, a filha de seis anos. "Dois meses após o nascimento dela já viajava a trabalho, e mesmo hoje acho que seria muito difícil deixar o ritmo que tenho para ficar um mês em casa parada", conta.

Conforme Virgínia, ela vive na "loucura da mãe moderna" e mesmo solteira e trabalhando muito ainda reserva parte de seu sábado para fazer um MBA. "Sei que preciso me atualizar, então faço uma matéria por vez e vou levar o dobro do tempo."

Segundo Irene Azevedo, professora da Brazilian Business School e diretora da Mariaca & Associates, as duas são o reflexo da mulher atual: "Elas perceberam que o casamento não é garantia de estabilidade financeira, e que não é necessário sentir culpa ao também ter uma carreira".

Além disso, no atual cenário empresarial, os empregadores buscam dar mais qualidade de vida e apostar na diversidade de experiências. "Percebeu-se que é mais lucrativo misturar crenças, raças, mulheres e homens, gerando mais criatividade e produtividade", afirma.

Regina Madalozzo, professora do Ibmec São Paulo, aponta que existem características femininas hoje altamente valorizadas, "como saber conversar com pessoas de estilos diferentes, negociar muito bem e serem mais conciliadoras" .

Para Maria Nuria Chinchilla, professora do Iese, escola espanhola de Negócios, os dois sexos trabalham com perspectivas complementares. "O homem é bom em tomar decisões e buscar estratégias novas e administrativas, já a mulher está mais preparada para antecipar conseqüências", exemplifica.

LICENÇA MATERNIDADE

Quando o assunto é mulher no ambiente de trabalho, uma das discussões que sempre aparece é a questão da licença maternidade garantida por lei. O tema esquentou mais ainda depois que a senadora Patrícia Saboya (PSB-CE) elaborou um projeto de lei que prevê o aumento do período de descanso de 4 para 6 meses, com direito a abatimento no Imposto de Renda para as empresas que adotassem a iniciativa.

"É um projeto louvável do ponto de vista social, pois dá mais tempo para a mãe ficar com o filho, mas não do ponto de vista prático. Diante da informalidade e competição no mercado atual, seria um entrave velado às mulheres", diz Ana Luiza Troccoli, advogada trabalhista do escritório Trevisioli.

Regina comenta que as mulheres, em média, ganham menos do que os homens justamente por causa do tempo de licença maternidade. "A funcionária precisa se ausentar do trabalho por um período longo, e a empresa precisa colocar alguém no seu lugar. Depois, precisa reabsorvê-la, e isso gera custos que são descontados, indiretamente, no salário da mulher".

Por experiência própria, Regina conta que preferiria ter voltado ao trabalho depois de dois meses após o parto e ter tido direito a um dia de folga por semana durante dois anos. "Daria tudo para ter tido esta flexibilidade."

Conforme Maria Nuria, estudos apontam que a primeira causa de discriminação na hora de contratar uma mulher é o fato de ela estar na idade considerada fértil. "Ou seja, o preconceito não é por ser só mulher, mas por ter filhos e ficar longe do trabalho", diz. Por isso, acrescenta, a flexibilidade poderia ajudar a minar este tipo de preconceito, já que as mães ficariam muito menos tempo afastadas do posto de trabalho e contariam com outros horários para cuidarem mais e melhor dos filhos.