Título: Menina de um ano é morta em Minas
Autor: Natália Zonta
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/01/2006, Metrópole, p. C3

Mãe, que é moradora de rua, culpou companheiro por crime e foi liberada

Uma menina de apenas 1 ano e 6 meses morreu ontem em Belo Horizonte depois de ter sido espancada no local onde vivia com a mãe e a irmã. A sem-teto Letícia Coutinho Souza, de 26 anos, culpou pelo assassinato da filha o companheiro, conhecido apenas como Carioca. Ela prestou depoimento na Delegacia de Homicídios e foi liberada, por falta de provas.

Segundo a polícia, Letícia chegou ao pronto-socorro do bairro Venda Nova por volta de 2 horas de ontem, pedindo atendimento para as filhas - a caçula e a irmã, de 5 anos. Os médicos constataram que o bebê já estava morto. A irmã, em estado de choque, também apresentava marcas de agressões.

A sem-teto disse que vive há um ano com Carioca em um casarão abandonado na Avenida Cristiano Machado, zona norte da cidade. Ela afirmou ter saído de casa por volta das 17 horas de quarta-feira e se deparado com as filhas agredidas ao voltar, uma hora depois. Mesmo assim, só chegou ao hospital de madrugada. "Demorei porque não consegui ajuda de ninguém. Nem o meu companheiro estava mais na casa para ajudar. Ele foi o culpado."

A polícia está atrás de Carioca, mas o delegado Alcides Costa disse que o depoimento da sem-teto foi muito confuso. "Ela disse que saiu da casa na tarde de quarta-feira para comprar cachaça. Quando voltou, encontrou as crianças naquele estado. Depois, aproveitou para incriminar o companheiro. Vamos tentar localizá-lo para comparar as versões."

O laudo do Instituto Médico-Legal apontou que o bebê teve traumatismo craniano. O documento atesta que a criança sofreu várias agressões, na cabeça e no resto do corpo. A irmã passa bem e está sendo acompanhada pelo Conselho Tutelar. De acordo com a conselheira Marlene Vieira, o órgão tinha recebido há pouco mais de um mês uma denúncia contra a mãe. "Disseram que ela usava as crianças para pedir dinheiro no semáforo. Então, passamos a acompanhá-la. Ela nunca nos pareceu uma pessoa violenta."

LAGOA

O delegado Hélcio Bernardes, do 16.º Distrito, ouviu ontem funcionários da Maternidade Odete Valadares, onde a menina Letícia Cassiano, de 2 meses, abandonada no fim de semana na Lagoa da Pampulha, ficou internada durante 60 dias. A polícia investiga se a menina foi deixada no lagoa pela mãe, a promotora de vendas Simone Cassiano da Silva, de 27 anos.

Segundo o delegado, que não revelou o teor dos depoimentos, já foram ouvidas 12 pessoas na investigação, mas falta localizar outras 4. "Queremos traçar o perfil psicológico da possível autora do crime. O depoimento de dois taxistas que estamos procurando é muito importante", afirmou, referindo-se aos motoristas dos carros usados por Simone para ir à Pampulha e voltar para casa. Simone continua detida e o bebê está num berçário da Vara da Infância.