Título: Japão faz a defesa de sua TV digital
Autor: Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2006, Economia & Negócios, p. B7

Costa vê melhores condições técnicas na proposta japonesa; na próxima semana, é a vez dos americanos

Depois dos europeus, que quarta-feira passaram o dia em Brasília defendendo as vantagens de seu sistema de TV digital, ontem foi a vez de os japoneses tentarem convencer o governo a adotar o padrão tecnológico desenvolvido no Japão. As vantagens comerciais e econômicas oferecidas por eles, em reunião com ministros, no Palácio do Planalto, se assemelham às dos europeus, mas os japoneses continuam apresentando melhores condições técnicas, pelo menos na visão do ministro das Comunicações, Hélio Costa, que ainda vê problemas na tecnologia européia.

Terça-feira será a vez dos americanos, que vão se encontrar com Costa e os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, da Fazenda, Antonio Palocci e do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Costa disse que até sexta-feira estará tudo pronto para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tome a decisão.

Mas admitiu que a escolha pode não sair até o dia 10 de fevereiro, data para a entrega oficial dos estudos, até porque na próxima semana o presidente estará em viagem pela África.

Ele defende, porém, que a decisão seja tomada ainda neste mês. "Não quer dizer que o presidente vai ter até o dia 10 para decidir. Uma variação de 15 ou 20 dias não faz diferença. Só não pode passar muito de fevereiro, senão você não tem prazo para poder colocar a TV digital em funcionamento este ano."

Costa, que demonstra abertamente sua simpatia pelo padrão japonês, disse que saiu muito satisfeito da reunião. "Eles cumprem rigorosamente aquilo que o sistema brasileiro exige", afirmou, referindo-se à transmissão de imagens em alta definição, à portabilidade, à mobilidade e à interatividade.

A diferença entre os modelos europeu e japonês estaria, segundo Costa, na questão técnica. Ele fez questão de afirmar que o modelo japonês atende a todas as exigências brasileiras, usando só o espaço de 6 megahertz no canal de transmissão permitido pelo governo.

Segundo Costa, os europeus precisariam de um canal extra para isso. A comissária européia para a Sociedade da Informação e Mídia, Viviane Reding, havia dito, porém, que o padrão europeu já opera em 6 MHz em Taiwan. Costa, porém, disse que recebeu ontem a informação de que não é exatamente isso o que ocorre lá.

Os japoneses ofereceram financiamentos que podem superar os 400 milhões ofertados pelos europeus. O embaixador do Japão no Brasil, Takahiko Horimura, não citou valores, mas disse que os japoneses estão prontos para atender à demanda brasileira.

Além disso, eles ofertaram a incorporação das inovações tecnológicas feitas no Brasil ao seu sistema da TV digital e garantiram a quebra de patentes com custo zero de royalties para a produção de aparelhos, além da presença de mais de um representante brasileiro no fórum decisório sobre as inovações tecnológicas do padrão japonês.

Colocaram, ainda, à disposição do Brasil a tecnologia para produção dos aparelhos (set top boxes) que farão a conversão do sinal digital em analógico, para que os atuais televisores possam ser aproveitados.

Segundo Costa, mesmo que o Brasil adote o modelo japonês, a indústria brasileira poderá ter economia de escala, uma vez que 90% dos componentes desse aparelho conversor são os mesmos nos três padrões.

Portanto, um aparelho produzido no Brasil com tecnologia japonesa poderia ser exportado para a Europa ou os EUA mudando somente um chip.

Costa, entretanto, ressaltou que o primeiro mercado é o brasileiro. "Precisamos de pelo menos 60 milhões de conversores."