Título: Preço do boi é o menor em 50 anos. Mas não para consumidor
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2006, Economia & Negócios, p. B4

Cotação do boi gordo caiu 12% em 2005, mas consumidor pagou 0,9% a mais pela carne

O boi gordo atingiu a cotação mais baixa dos últimos 50 anos para o pecuarista em 2005, mas os reflexos da queda de preços não chegaram ao consumidor, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA). As médias de preços foram de R$ 53,99 a arroba para o boi gordo, de R$ 3,48 para o quilo de carne bovina no atacado e de R$ 7,31 para o quilo no varejo. O ano fechou com queda de 12% na cotação do boi gordo. O preço da carne bovina no atacado teve queda menor, de 8,7%, enquanto as cotações do produto no varejo tiveram alta de 0,9%.

No período, a carne para o consumidor teve a menor variação de preço, só 2,1%, enquanto o preço da carne no atacado variou 5,9% e o do boi gordo, 4,6%. Para o IEA, a baixa variação dos preços no varejo mostra a organização do mercado varejista no sentido de evitar alterações que sejam sentidas pelo consumidor. Os preços nas três categorias foram maiores em janeiro, com queda até setembro e aumento a partir de outubro para o boi gordo e o varejo. No atacado, o aumento ocorreu a partir de agosto.

O preço do boi gordo é influenciado pela taxa cambial e pela oferta de fêmeas para abate, mas com a denúncia de cartelização por parte dos frigoríficos, com o objetivo de manipular os preços, esses fatores têm diminuída sua importância, segundo o IEA. Os preços da carne no atacado foram influenciados pelo consumo e pelas exportações, afetadas em outubro pelos focos de aftosa em Mato Grosso do Sul. Em dezembro, com o aparecimento de novos focos, a cotação do boi gordo caiu consideravelmente. No atacado, ocorreu queda de preços em menor intensidade. Já no varejo, houve aumento nos preços. A carne bovina responde por 13,2% dos gastos com alimentação de uma família em São Paulo, atrás em importância só do leite. Em 2005, o Estado produziu 78,2 milhões de arrobas, o que torna a bovinocultura de corte uma das principais atividades agrícolas.

O valor da produção foi de R$ 4,3 bilhões, 15,4% do valor da produção agropecuária do Estado, segundo o IEA.

PROTESTO

Pecuaristas de todo o Brasil vão protestar contra a pior crise dos últimos 40 anos no setor. Segundo o presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, eles pretendem distribuir carne à população numa manifestação marcada para o dia 20, em Presidente Prudente, oeste do Estado de São Paulo.

Nabhan aponta como alvos do protesto grandes frigoríficos que, segundo ele, podem estar organizando um cartel, com manipulação de preço e peso da arroba. A classe vai pedir a instalação da CPI da Carne para investigar as denúncias de cartel. A revolta do setor, segundo ele, tem como base o preço da arroba do boi, que em 2002 estava a R$ 62 e atualmente caiu para R$ 48, com redução de 22%, enquanto o custo da produção praticamente dobrou. Para o consumidor, no entanto, o preço da carne subiu, segundo ele. A manifestação vai cobrar do governo federal mais investimentos na vigilância sanitária.