Título: Na Capital da cebola, otimismo
Autor: Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2006, Economia & Negócios, p. B3

Piedade sofreu com a invasão do produto argentino

A possível restrição à entrada de produtos agrícolas argentinos no Brasil trouxe esperança para produtores de cebola de Piedade, na região de Sorocaba. Eles só lamentam que a adoção de salvaguardas pode ocorrer muito tarde. "A maioria desistiu de plantar e a gente ficou de teimoso", disse Ernesto Reis, produtor do bairro Roseira. Ele colhe cerca de 800 toneladas por ano e enfrenta a concorrência da cebola argentina. "Eles entram justamente quando estamos na colheita."

O município foi, até a década de 80, o maior produtor brasileiro de cebola, chegando a colher 220 mil toneladas por ano. A cultura, plantada em duas safras anuais, cobria 80% da área de agricultura do município. Piedade ganhou o título de "Capital da Cebola". Foi quando o mercado paulista começou a ser invadido pela cebola argentina.

O prefeito José Tadeu Resende (PSDB), na época no primeiro mandato, ainda se lembra do impacto. "Era uma cebola graúda e, na aparência, mais bonita do que a nossa. E ainda levava mais tempo para estragar. Para complicar, chegava em São Paulo custando igual ou menos." Resende liderou comitivas de produtores a Brasília, para pressionar o governo a restringir as importações. Os esforços foram quase todos em vão. "Quando conseguimos provar que a cebola argentina era perigosa, pois tinha muitos produtos químicos, era tarde."

A maioria dos produtores não suportou a concorrência e migrou para outras atividades. Os que ficaram, tiveram de adotar novas técnicas de cultivo para competir com a concorrente.

A produção atual é de 20 mil toneladas anuais, menos de 10% do que se colhia. Segundo Resende, como a cebola argentina continua entrando no País, principalmente em São Paulo, o governo brasileiro acerta em impor salvaguardas. "É preciso verificar que tipo de produto eles estão usando para conservar a cebola."

Na época, ele descobriu que eram usados antibrotantes prejudiciais à saúde e não permitidos pela legislação brasileira. "Por isso, a cebola argentina durava mais." O Estado de São Paulo produziu no ano passado 200 mil toneladas de cebola, em 6,4 mil hectares.