Título: Uruguai nega acerto com EUA
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2006, Economia & Negócios, p. B1

É por falta de 'conveniência econômica', diz chanceler

O ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Reynaldo Gargano, deixou claro ontem, no Itamaraty, que seu país não negociará um acordo de livre comércio com os Estados Unidos por pura falta de "conveniência econômica". Juridicamente, segundo o chanceler, o Uruguai teria o direito de iniciar essa discussão com qualquer parceiro comercial, desde que haja um acordo anterior desse país com o Mercosul.

Na manhã de ontem, em Montevidéu, o ministro da Economia, Daniel Astori, voltou a defender o acordo com Washington. Há poucas semanas, Astori foi respaldado pelo ministro da Indústria, Jorge Lepra, o ministro do Turismo, Héctor Lascano e até pelo ministro da Pecuária, o influente José Mujica.

As declarações de Gargano trouxeram certo mal-estar durante entrevista que ele deu ao lado do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Gargano fez questão de indicar que o presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, está propenso a agir de forma menos dependente em relação ao Mercosul nas questões comerciais.

Amorim disse que pode haver "muita tentação" para um sócio do Mercosul negociar "um acordozinho" com os EUA. Mas lembrou que, no caso do acordo do Mercosul com a Índia, foi fechado um acerto adicional em favor de produtos do Paraguai. Isso só foi possível, insistiu Amorim, porque Assunção negociou como parte do Mercosul - não em separado.

"(A tentação) é verdade para o Uruguai, para Argentina, Paraguai e Brasil. Mas, em médio e longo prazos, o fortalecimento da nossa integração nos dará mais capacidade de atingir outros mercados e atrair investimentos", rebateu Amorim. "É preciso que o Mercosul mantenha sua unidade porque daí vem a sua força."

Gargano viajou às pressas para Brasília, a convite de Amorim. A reunião teria o objetivo de pôr em pratos limpos as manifestações do próprio governo uruguaio, em janeiro, sobre a suposta negociação com os EUA - o que indicaria um rompimento com o Mercosul. Ainda em janeiro, Tabaré Vázquez valeu-se de sua primeira reunião ministerial para acabar com as discussões e deixar claro que o programa de governo do seu partido não previa nenhum distanciamento do Mercosul.