Título: 'Em negociação comercial não existe o preto e o branco'
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2006, Economia & Negócios, p. B1

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, defendeu ontem o acordo entre Brasil e Argentina que criou o Mecanismo de Adaptação Competitiva (MAC). Ele disse que o MAC foi firmado de boa fé e será um instrumento que dará maior equilíbrio ao comércio bilateral. Mas deverá ser utilizado com "moderação" por ambos os países. Em contraposição às críticas da Confederação Nacional da Indústria (CNI) à adoção desse mecanismo, Amorim alegou que todos os pressupostos defendidos pelo Brasil durante as negociações foram aceitos pela Argentina.

"Em qualquer negociação comercial não existe o branco e o preto", sustentou Amorim. "Muitas vezes, é possível chegar ao entendimento nas áreas cinzentas. Agora, temos um quadro com um sistema razoável e de maior previsibilidade, o que dará possibilidade de crescimento do comércio de maneira mais equilibrada."

Ele enumerou os pressupostos exigidos pelo Brasil como contrapartida pela sua concessão em aceitar o mecanismo de salvaguardas. O MAC, disse, não será um mecanismo unilateral; haverá sempre consultas plenas entre os setores empresariais e os governos dos dois países, como meio de evitar a aplicação das salvaguardas. E o mecanismo prevê ajustes para evitar a proteção às indústrias sem condições de se tornarem competitivas.

De acordo com o ministro, nas questões mais polêmicas - precisamente as "áreas cinzentas" - os negociadores brasileiros conseguiram convencer os argentinos a aplicar as mesmas regras do Acordo de Salvaguardas da Organização Mundial de Comércio (OMC). Um exemplo disso é a exigência de que os setores beneficiados pelas salvaguardas firmem um compromisso de reestruturação.

Em princípio, o governo brasileiro não vai propor a extensão do MAC aos demais sócios do Mercosul. A medida, reconheceu Amorim, não foi de interesse do Brasil, mas da Argentina.