Título: EUA fazem vacina para gripe aviária
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2006, Vida&, p. A15

Teste bem-sucedido foi feito com camundongos e conseguiu evitar a ação do mortal vírus H5N1

Uma nova vacina desenvolvida nos Estados Unidos conseguiu proteger camundongos contra a gripe aviária. Se o efeito for confirmado também em seres humanos, seria uma arma importante para proteger o mundo de uma pandemia.

A vacina, segundo os cientistas, poderá ser eficaz não apenas contra o vírus da gripe aviária (H5N1), mas contra todas as formas de vírus H5. Em vez de ativar uma resposta de anticorpos, como fazem as vacinas tradicionais, ela ativa a produção de "células assassinas" do sangue, que destroem o vírus.

Em camundongos infectados com a cepa do vírus encontrada no Vietnã, a vacina evitou a morte e protegeu contra a perda de peso. Todos os animais não imunizados morreram.

Os resultados foram publicados ontem pela revista médica The Lancet em versão online. Na semana passada, uma outra equipe nos EUA divulgou resultados quase idênticos, com o uso de uma técnica muito semelhante - caso típico de competição entre grupos de pesquisa e entre periódicos científicos em áreas de grande repercussão.

Os dados do primeiro estudo, feito na Universidade de Pittsburgh, deverão ser publicados no Journal of Virology. Nesse caso, a vacina criada pelos cientistas protegeu contra a gripe aviária em camundongos e galinhas.

Ambas as vacinas contêm a versão geneticamente modificada de um adenovírus, tipo de vírus que causa resfriados. A segunda equipe, dos Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, acrescentou ao vírus o gene responsável pela hemaglutinina (o H da sigla H5N1), uma proteína em forma de pino que fica na superfície dos vírus.

Dessa forma, o adenovírus ativa glóbulos brancos conhecidos como "killer T cells", ou células assassinas, que atacam o invasor. Outra suposta vantagem do adenovírus é que ele pode ser reproduzido in vitro, sem a necessidade de reprodução em ovos de galinha, como é o caso do H5N1.

O Instituto Butantã, em São Paulo, recebeu amostras do H5N1 em janeiro e espera iniciar a produção de uma vacina nos próximos meses, com a cultura do vírus em ovos de galinha. "É muito mais seguro e econômico para o Brasil trabalhar com ovos, já que temos uma produção industrial de alto nível", disse ao Estado o presidente da Fundação Butantã, Isaias Raw. O meio de cultura para o adenovírus, segundo ele, é caro e não está disponível em larga escala.

Para Raw, o eventual desenvolvimento de uma vacina em outro país não altera os planos brasileiros. A meta é produzir 20 mil doses de vacina ainda neste ano - o que vai exigir 20 mil ovos.