Título: Se governo trabalhar pela paz, Brasil apoiará
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2006, Internacional, p. A13

É o que afirma Amorim, manifestando confiança em administração do Hamas

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, declarou ontem que o governo brasileiro poderá colaborar de diversas formas com a administração do Hamas na Palestina. Embora tenha rejeitado impor qualquer condição, o chanceler deixou claro que Brasília somente dará a ajuda ao novo governo palestino se houver compromisso do Hamas de contribuir para a pacificação da região e de respeitar o Estado de Israel.

"Queremos certamente colaborar com qualquer governo que trabalhe pela paz na região e contribua para alcançar um Estado palestino independente, coeso e economicamente viável. E que respeite também a existência do Estado de Israel", afirmou Amorim, no Itamaraty, ao ser questionado sobre o possível pedido de ajuda do Hamas a vários países sul-americanos, entre os quais o Brasil. "Qualquer governo que assuma esses compromissos e esses objetivos poderá receber a nossa ajuda. Não estou impondo nenhuma condição."

Movimento islâmico responsável por atentados que mataram centenas de israelenses, o Hamas, que mantém uma trégua há mais de um ano, venceu as eleições palestinas de janeiro e busca, agora, respaldo político internacional ao mesmo tempo em que tenta dissociar sua imagem das iniciativas mais violentas que protagonizou.

Em entrevista publicada anteontem pelo Estado, um porta-voz do Hamas, Samy Abu Kuhri, afirmou que o provável futuro primeiro-ministro palestino, Ismael Haniye, poderá chefiar uma delegação para solicitar apoio político e financeiro a países da América do Sul, em especial, ao Brasil.

Além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o venezuelano Hugo Chávez, o argentino Néstor Kirchner e o boliviano Evo Morales estariam na lista de visitas da delegação do Hamas. "Vamos a esses governos não com nossos embaixadores nesses locais, mas com ministros e líderes do Hamas para demovê-los da idéia de que somos terroristas e mostrar que o problema é a ocupação israelense", disse Kuhri ao Estado.

Ontem, Amorim afirmou estar "confiante" no processo político palestino que será conduzido pelo Hamas. "Quando se escolhe o caminho eleitoral, está clara a opção pela via política e não por outros meios", disse. "Mas isso terá de ser confirmado na prática por gestos dos dois lados."

O governo brasileiro ofereceu-se várias vezes para colaborar na busca da paz entre palestinos e israelenses. Nos últimos anos, deu claro apoio ao mapa da estrada para a paz, um acordo assinado em 2003. Tradicionalmente, o Brasil defendeu a definição de um Estado palestino independente, soberano dentro de suas fronteiras e capaz de desenvolver-se economicamente. Mas sempre com a ressalva de que esse processo não pode interferir na existência e na soberania do Estado de Israel. Ambos, defende o Brasil, devem construir uma relação pacífica e de respeito mútuo.