Título: Grupo garante Hamas por 2 anos
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2006, Internacional, p. A13

Irã, Catar, Arábia Saudita e Kuwait entrarão com o dinheiro para apoiar o futuro governo palestino nesse período

O grupo islâmico Hamas, vencedor das eleições parlamentares palestinas, está montando um consórcio de países muçulmanos, formado pelo Irã, Catar, Arábia Saudita e Kuwait, para apoiar a o novo governo da Autoridade Palestina (AP) com o dinheiro necessário para que o futuro primeiro-ministro possa ter uma folga de caixa de pelo menos dois anos.

Além do apoio do mundo árabe e islâmico, o Hamas espera que os EUA e a União Européia mantenham a ajuda internacional e conta com o repasse dos impostos por Israel. "Nós queremos todo o tipo de ajuda internacional. Mas estamos negociando com vários países árabes e acho que dois anos de ajuda financeira pode ser um período razoável, mas o tempo de duração ainda não foi definido", disse Samy Abu Zuhri, porta-voz do Hamas.

Dois anos, no entanto, seria o período que o Hamas estipula como mínimo para conseguir equilibrar as contas de governo. Na versão que circulou em Gaza, o Irã (que não é árabe) seria o principal contribuinte e sua participação no consórcio teria sido articulada por Omar Sulaiman, chefe do Serviço de Inteligência do Egito.

Ele teria atuado como ponte entre o Hamas, que enviou ao Cairo quatro representantes do primeiro time, e o governo do Irã. Abu Zuhri disse, porém, que o Hamas não precisou de nenhum intermediário. "Não precisamos de ninguém para falar com o Irã", afirmou. O porta-voz disse que, em primeiro lugar, o Hamas já tem boas relações com o governo de Teerã. Depois, ele assegurou que as negociações não estão priorizando o Irã isoladamente e sim o conjunto de países do mundo árabe que podem colaborar financeiramente com o governo. "Ainda não podemos citar os países, mas muitos governos muçulmanos vão nos ajudar financeiramente. Não queremos dinheiro para varrer as ruas. Mas para nossa economia e para educação", disse.

O valor da ajuda muçulmana ainda não foi definido. Mas um diplomata palestino disse que serão iniciadasconversações entre a AP e a Arábia Saudita sobre a ajuda financeira de pelo menos US$ 1,2 bilhão para cobrir seu profundo déficit orçamentário. A mídia palestina informou ontem que a Arábia Saudita e o Catar decidiram dar à AP US$ 33 milhões de ajuda em resposta à decisão de Israel de suspender o repasse de impostos.

O presidente da AP, Mahmud Abbas, tem sido informado dos entendimentos e está prestes a chegar a Gaza para uma reunião com os líderes do Hamas, quando será discutida também a formação do novo governo. A questão central é se o Hamas vai indicar o ministro do Interior e comandar as forças de segurança palestinas.

Mas o Hamas terá ainda outros desafios. A Cisjordânia e a Faixa de Gaza, sob controle da AP, têm uma população de 3,7 milhões de pessoas. Desse total, pelo menos 45% vivem perto da linha de pobreza. Em Gaza, carroças são usadas como meio de transporte de trabalhadores e a infra-estrutura é precária. Para uma população estimada em 1,3 milhão, há apenas sete hospitais. A situação herdada pelo Hamas não permite meio-termo: ou entra para a história como um partido que deixou o terror para reconstruir a região ou acabará sendo mais um grupo de fanáticos que só sabe agir sob o manto do medo.