Título: Maior Fome Zero do mundo ajudará 60 milhões na Índia
Autor: Gabriel Manzano Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2006, Nacional, p. A11

Programa dará US$ 1,35 por dia aos beneficiados e equivale a seis vezes o Bolsa Família brasileiro

Centenas de milhares de indianos formaram ontem filas gigantescas, em pequenos e distantes povoados do país, para se cadastrar no maior, mais caro e mais ambicioso programa de ajuda aos pobres anunciado na recente história econômica mundial. Numa primeira etapa, o governo da Índia vai gastar cerca de US$ 5 bilhões (que, segundo críticos, podem chegar a US$ 25 bilhões)para beneficiar cerca de 60 milhões de habitantes das áreas rurais mais atrasadas. Em cada família, uma pessoa receberá ajuda mínima de US$ 1,35 (cerca de R$ 3) por dia, em troca de serviços prestados em frentes de trabalho, onde houver projetos. Se não houver, a ajuda sai assim mesmo, como seguro-desemprego.

Na prática, serão criadas frentes de trabalho para a construção de canais, redes de irrigação e serviços de manutenção dos reservatórios de água - atividades essenciais num país atrasado, plano, enorme, onde a produção agrícola é altamente estratégica.

É o maior Fome Zero do planeta. Apenas como comparação numérica, o Bolsa Família brasileiro pretende chegar a 11 milhões de famílias no fim do ano - uma sexta parte do projeto anunciado ontem pelo primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh. "Temos de trabalhar duro para garantir que o esquema chegue aos necessitados", advertiu o primeiro-ministro, ao fazer o lançamento oficial do projeto num povoado pobre e distante, Anandapur, no Estado de Andhra Pradesh.

Numa primeira etapa, 200 povoados serão atendidos. Nos quatro anos seguintes, o programa se estenderá a outras regiões pobres do país inteiro. Segundo a BBC, que noticiou com destaque o lançamento do plano, Sing deixou clara a sua meta: "O principal foco são os mais miseráveis entre os pobres."

GRANDES NÚMEROS

Num país de 1,08 bilhão de habitantes, onde todos os números são gigantescos - inclusive os da pobreza -, esse é um programa normal. Basta lembrar que chega a 370 milhões - o dobro da população do Brasil - o total de indianos que sobrevivem com menos de um dólar por dia.

O que o governo pretende, com o programa, é estancar o êxodo rural. O país vem crescendo num ritmo comparável ao da China - 8% em 2005 -, mas não consegue transferir para os pobres os benefícios desse crescimento. As cidades estão abarrotadas de gente e sem recursos para ampliar seus programas sociais.

Mas ontem mesmo o esquema começou a ser contestado. Para uns, é muito caro: custará entre US$ 5 bilhões e US$ 25 bilhões. Outros advertem que um programa tão gigantesco, dando dinheiro a tanta gente, é perfeito para um grande esquema de corrupção. O governo corre o risco de alimentar um caixa 2 à altura do Himalaia.