Título: PF convoca ex-parlamentares para depor
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2006, Nacional, p. A9

CGU vai fazer auditoria nas empresas que teriam abastecido campanhas por meio de Furnas

A Polícia Federal prepara uma triagem na lista de beneficiários do suposto caixa 2 de Furnas para tomar os depoimentos de pessoas dispostas a desmascarar uso de dinheiro ilegal em campanhas eleitorais no País, a exemplo do que fez o ex-presidente do PTB e ex-deputado Roberto Jefferson (RJ). Os escolhidos começarão a depor na próxima semana. A lista da PF inclui políticos cassados ou que renunciaram em meio ao chamado escândalo do mensalão.

Entre os nomes considerados para convocação estão os do ex-presidente do PL Valdemar Costa Neto (SP) e os dos ex-deputados José Borba (PMDB-PR) e Carlos Rodrigues (PL-RJ). Estão na mira também os que têm o mandato por um fio, como Roberto Brant (PFL-MG), Vadão Gomes (PP-SP), Pedro Corrêa (PP-PE) e Pedro Henry (PP-MT).

A lista, entregue à PF pelo lobista mineiro Nilton Monteiro, relaciona 156 políticos que teriam recebido doações de campanha com recursos de caixa 2 levantados pelo ex-diretor de Furnas Dimas Toledo com empreiteiras e fornecedores da estatal. Até agora, só Jefferson confessou ter recebido os R$ 75 mil que constam em seu nome na lista.

SUPRIDORES

A pedido da PF, a Controladoria-Geral da União (CGU) começa na próxima semana uma auditoria sobre os contratos com as 101 pessoas jurídicas (empreiteiras, bancos, fundos de pensão, corretoras de valores, multinacionais e fornecedores de bens e serviços em geral) citadas na lista como supridores de recursos para financiamento ilegal de campanhas políticas na eleição de 2002. Os beneficiários, conforme a lista, são do PSDB, PTB, PP, PL e PFL.

Embora ainda não tenha a confirmação de que a lista seja autêntica, a PF acha que outros acabarão confessando ter recebido recursos ilegais. Ela montou uma estratégia para avançar as investigações, a partir da colaboração espontânea de políticos citados.

Será dada prioridade, na triagem, a parlamentares da lista que tenham sido cassados por quebra de decoro ou tenham renunciado por envolvimento com o mensalão, na suposição de que eles agora nada têm a perder. Podem ser convocados outros punidos por quebra de decoro, como é o caso do ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), cassado por corrupção, também citado na lista de Furnas com uma doação de R$ 180 mil.

DELAÇÃO

Serão chamados também políticos não eleitos e outros integrantes da lista dispostos a delatar o esquema por algum interesse contrariado. A PF abrirá essa etapa da investigação a quem quiser fazer delação espontânea, criando uma espécie de disque-Furnas. Segundo um delegado que atuou na montagem da estratégia, a PF não está preocupada, por enquanto, em checar a autenticidade da lista, mas em conferir se o conteúdo é verdadeiro e se as pessoas citadas de fato cometeram crime.