Título: Comissão negocia cópia de inquérito do mensalão
Autor: EUGÊNIA LOPES E PAULO SOTERO
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2006, Nacional, p. A7

O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), reúne-se hoje com o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF), para pedir cópia do inquérito do mensalão, operado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Na semana que vem, a CPI deve aprovar requerimento formal ao STF de cópia do inquérito com as investigações da Polícia Federal envolvendo políticos que teriam recebido dinheiro de caixa 2 de Valério.

A CPI dos Correios decidiu incluir o mensalão em seu relatório final, que deve ser apresentado em meados de março, depois que a comissão que apurava o pagamento de mesada a parlamentares terminou sem resultados. A CPI dos Correios começou a apurar o mensalão e fez até um relatório preliminar com os nomes de 18 deputados acusados de envolvimento. Este relatório foi para a Câmara e serviu de base para a abertura de processo por falta de decoro parlamentar contra os deputados.

A PF pretende concluir ainda este mês o inquérito sobre o mensalão, que deve pedir o indiciamento do publicitário Duda Mendonça, de Marcos Valério, do ex-presidente do PT José Genoino e do ex-tesoureiro petista Delúbio Soares. O inquérito também deve trazer a descoberta feita pela CPI dos Correios de suposta utilização de recursos do Banco do Brasil, por meio da Visanet, para o esquema de caixa 2.

O inquérito do mensalão está sob o comando do ministro Joaquim Barbosa e todos os passos da PF são determinados pelo procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza. Caberá a ele examinar as provas e indícios colhidos pela PF para decidir se pedirá ou não a abertura de ação penal e quantas pessoas serão denunciadas nesse processo.

Em depoimento ontem à CPI dos Correios, o dono da corretora Guaranhuns, José Carlos Batista, não quis explicar a discrepância entre seu patrimônio e a movimentação de sua empresa. Batista alega ter um patrimônio de R$ 300 mil, mas a corretora apresentou lucro de mais de R$ 7 milhões nos últimos três anos. Protegido por um habeas-corpus, Batista se negou a responder à maior parte das perguntas.

"Não tenho dúvidas de que José Carlos Batista era um laranja operando a serviço de outras pessoas", afirmou o deputado ACM Neto (PFL-BA), sub-relator de fundos de pensão da CPI dos Correios. A SMPB, agência de Valério, usou a Guaranhuns para repassar recursos para o PL.

"Apenas recebi recursos de Marcos Valério por intermédio da Guaranhuns, repassei ao PL e recebi uma comissão, porque ninguém faz nada sem ganhar", disse Batista no depoimento.