Título: Dividido, PT abre hoje debate sobre alianças
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2006, Nacional, p. A5

Na primeira reunião da Executiva no ano, petistas discutem se devem continuar aliados a partidos da base

O PT começa oficialmente a discutir hoje, quando realiza sua primeira reunião da Executiva de 2006, a política de alianças que deve nortear a sigla no ano em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentará a reeleição. "Não dá para deixar para discutir quem serão os aliados apenas em abril", afirma o secretário-adjunto de Organização do PT, Francisco Campos, em referência ao 13º Encontro Nacional do PT, marcado para 28 a 30 de abril, no qual o partido pretende definir as diretrizes do programa de governo de Lula e debater a política de alianças.

"Temos que chamar já oficialmente o PMDB para uma conversa", prossegue o dirigente petista, que deve ser o responsável por colocar o assunto na mesa hoje. "A reunião deve ser tranqüila até que se comece a discutir a política de alianças. Aí ela é como um divisor de águas", prevê o terceiro vice-presidente do PT, Jilmar Tatto. Assim como Campos, ele também defende o início imediato de um "debate profundo" sobre o tema. "Já perdemos muito tempo", comenta outro membro da Executiva, ao fazer rápida análise sobre o cenário político-eleitoral deste ano.

A discussão sobre política de alianças divide o PT. Enquanto integrantes do Campo Majoritário, corrente da qual faz parte o presidente da sigla, Ricardo Berzoini, defendem a proposta de que as legendas que dão sustentação ao governo federal continuem juntas com o PT na disputa de outubro, outras tendências são reticentes e até contrárias à presença de aliados que estão envolvidos no escândalo do mensalão, lembrando que a crise "corroeu" a imagem do partido.

Integrante da Democracia Socialista (DS), tendência de esquerda do PT, o secretário-geral-adjunto, Joaquim Soriano, quer que no primeiro turno a legenda faça coligação apenas com os aliados históricos do PT: o PC do B e o PSB. "A aliança tem de ser com os partidos com os quais temos identidade programática", argumenta, divergindo de outros companheiros que, como ele, têm vaga na Executiva.

Também representante da esquerda na Executiva, Valter Pomar, secretário de Assuntos Internacionais e membro da Articulação de Esquerda, destaca que apenas o Encontro Nacional é a instância apropriada para que se possa bater o martelo sobre a linha a ser adotada nas eleições em relação aos aliados.

Sem citar nomes, Pomar diz que ninguém no partido pode ser "arrogante" de achar que, para se conseguir apoios, basta apenas o PT querer a aliança. "Uma aliança não é decisão exclusiva de um único partido. É bilateral. Não basta o PT querer aliados. É preciso observar se os aliados vão querer estão com o PT", observa.

PACTO

Outro desafio da cúpula petista hoje é tentar costurar um pacto de unidade para que o PT consiga tomar a dianteira no comando da campanha da reeleição de Lula. Até agora, o partido não conseguiu nem construir a equipe que vai coordenar a elaboração do novo programa de governo. "Temos que acelerar o processo", reconhece Campos.

No encontro de hoje, os petistas também vão discutir a conjuntura política e fazer um balanço do Fórum Social Mundial, realizado em Caracas, na Venezuela. Os detalhes do encontro de abril também deve ser fechados. A Executiva Nacional é formada por 20 dirigentes, além dos líderes na Câmara, Henrique Fontana (RS), e no Senado, Delcídio Amaral (MS).