Título: Ex-presidente disse à 'IstoÉ' que 'ética do PT é roubar'
Autor: Denise MadueñoEugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2006, Nacional, p. A4

Na entrevista que deu à revista IstoÉ desta semana, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez críticas pesadas e diretas, não só ao PT como ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Afirmou que "a ética do PT é roubar" e a corrupção praticada no atual governo "é muito mais grave" do que nos anteriores. Isso porque, segundo ele, os outros casos eram individuais, "enquanto no governo Lula a corrupção se organizou e teve a chancela do partido no governo. É um fenômeno novo. No governo Lula a corrupção tem organicidade, foi arquitetada. É sistêmica".

À pergunta sobre se Lula sabia de alguma coisa, ele foi irônico: "Se não sabe, é porque está comendo mosca. Aliás, deve ter ficado viciado em comer mosca." O ex-presidente acusou o atual de ser o beneficiário de todo o esquema. "O que o Duda declarou no depoimento dele? Que recebeu aquele dinheiro ilegalmente e com esse dinheiro fez diversas campanhas, inclusive a do próprio Lula."

Em sua opinião, o relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), "coloca bem as coisas" ao considerar que o presidente da República "tem responsabilidade por omissão". E o Congresso "foi omisso ao investigar a responsabilidade dele". O impeachment de Lula deveria ter sido discutido, "mas agora não dá mais".

Em outro trecho, Fernando Henrique discutiu a bandeira ética do PT, cujos militantes sempre pensavam "eu sou puro, os outros não". Isso os teria levado a imaginar que poderiam cometer deslizes morais - 'e esses deslizes foram crescendo à medida que o partido começava a tomar mais posições no aparelho do Estado". Foi então que afirmou: "É paradoxal, mas a ética do PT é roubar. No PT, o militante acredita que está expropriando a burguesia para manter os seus ideais." E um personagem como Delúbio Soares, que assumiu tudo, "só tem paralelo naqueles processos de Moscou, na década de 1930, sob (Josef) Stalin."

Para ele, "é fantástico do ponto de vista sociológico" que os petistas continuem falando em ética. "É como se o PT quisesse manter a sua pureza atolado num lamaçal formado por seus aliados." O PT "obteve lealdades em troca de dinheiro, e isso é grave". Em seguida, alertou para uma diferença que considera importante: "Uma coisa (...) é o caixa 2 de campanhas eleitorais. Outra, bem mais grave, é manter o apoio ao governo à custa de dinheiro público, o mensalão."

Ele diz não acreditar que Lula possa ganhar a eleição deste ano, mas se o conseguir "vai fazer um governo pior ainda que o atual, porque as condições políticas são piores". Na campanha, segundo ele, o PSDB deve "mostrar o que aconteceu, com força". Sobre os candidatos tucanos, afirmou que "para Alckmin está mais fácil", pois está terminando seu mandato, enquanto José Serra "teria de enfrentar um buraco negro" entre a saída da Prefeitura e uma eventual vitória em outubro.