Título: Protestos já deixaram 7 mortos
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2006, Internacional, p. A10

Pelo menos seis pessoas morreram ontem no Afeganistão e na Somália durante violentas manifestações de protesto contra a republicação na semana passada por jornais europeus de caricaturas do profeta Maomé, divulgadas pela primeira vez em setembro por um diário dinamarquês. Com a confirmação da morte de um libanês em Beirute, no domingo, eleva-se a sete o total de mortos na onda de protestos que se alastrou pelo mundo muçulmano e preocupa seriamente a Liga Árabe e a União Européia. As duas instituições preparam uma ação conjunta para reverter o processo.

Além de Afeganistão e Somália, Paquistão, Índia, Egito, Irã, Iraque, Indonésia, Tailândia, Bósnia e Gaza foram palco de ruidosas manifestações. "Morte à Dinamarca" e "Morte à França" eram os gritos mais ouvidos nas marchas e concentrações de islâmicos irados. "Eles querem testar nossos sentimentos", disse o afegão Hamraz Slanikuzai, referindo-se ao argumento apresentado pelos diários, incluindo o parisiense France Soir, para reproduzir os polêmicos desenhos: preservar a liberdade de imprensa. "Depois nos acusam de terroristas", acrescentou. Slanikuzai participou das manifestações diante da base militar americana de Bagram, perto de Cabul. Pacífico no início, o protesto acabou em violência e morte de duas pessoas. Outras três morreram durante uma marcha de protesto na cidade de Mihtariam, leste do país.

Na Somália, a polícia disparou numa concentração de islâmicos na cidade nortista de Bosaso, matando um.

Em meio a esse quadro, a chancelaria dinamarquesa aconselhou os dinamarqueses a só viajaram para países islâmicos em caso de extrema necessidade.

Por sua vez, o governo do Irã decidiu suspender as relações comerciais do país com a Dinamarca. Simultaneamente, um jornal de Teerã, o Hamshahri, anunciava a realização de um concurso de caricaturas sobre o Holocausto. "É nossa resposta à imprensa européia", justificou o diretor do diário, Farid Mortazavi.

MEDO

O editor de cultura do jornal dinamarquês Jyllands-Posten, Flemming Rose, disse ontem por e-mail ao Estado que não dorme direito há uma semana e se desculpou por não querer dar uma entrevista completa ao jornal: "Já disse tudo que tinha a dizer sobre o assunto."

O assunto são as 12 charges do profeta Maomé publicadas pelo jornal em 30 de setembro, que, quatro meses depois, desataram e continuam provocando protestos de muçulmanos em todo o mundo. Respondendo a um último e-mail, Flemming reiterou que o jornal não se arrepende da publicação das charges: "Nos desculpamos se alguém se ofendeu, mas é nossa liberdade publicar o que acharmos necessário."

Flemming também informou que os 12 cartunistas não aceitam conceder entrevistas. "Alguns estão com medo, outros não, mas todos disseram que não querem que o jornal se desculpe."