Título: Experimento brasileiro que iria à ISS é vetado
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2006, Vida&, p. A13

Um dos nove experimentos que o Brasil deveria enviar ao espaço com o seu primeiro astronauta, Marcos Pontes, não poderá mais entrar em órbita. O projeto intitulado Nanossonda para Ambiente de Microgravidade, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) não poderá ser levado à Estação Espacial Internacional (ISS) por causa de problemas com um forno, segundo fontes ouvidas pelo Estado. Ainda não é certo se outro experimento poderá ser enviado em seu lugar.

O cancelamento foi confirmado pela Agência Espacial Brasileira (AEB) e por cientistas em Moscou, Rússia, onde Pontes está completando seu treinamento para o vôo do dia 30 de março. O problema, segundo fontes na capital russa, é a falta de um forno que permitisse uma temperatura adequada ao experimento. Aparentemente, o forno incluído no projeto pernambucano chegaria a uma temperatura acima da permitida para a segurança da ISS.

O experimento, segundo o resumo apresentado pela AEB, serviria para monitorar a migração de nanopartículas de prata em um vidro aquecido - tecnologia de materiais com possíveis aplicações em áreas como fibras óticas e sensores ambientais. A autoria do projeto é dos pesquisadores Petrus Santa Cruz e Gilmara Gonzaga Pedrosa, ambos da UFPE.

Um parecer técnico deverá ser divulgado nos próximos dias, especificando as razões para a rejeição do experimento. Apesar de haver outros projetos na fila, não há garantia de que algum deles poderá ser preparado a tempo para o lançamento.

Os últimos testes de eficiência e segurança com os experimentos brasileiros estão sendo feitos nesta semana no Laboratório de Integração e Testes (LIT) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em São José dos Campos. Na semana que vem, uma delegação russa deverá desembarcar na cidade para checar os resultados e aprovar (ou rejeitar) os projetos em definitivo.

A AEB disse que já previa o cancelamento do experimento pernambucano. Ainda assim, a agência rebate as críticas de cientistas que questionam os experimentos que serão levados à ISS. "Sempre haverá críticas. No caso dos experimentos escolhidos pelo Brasil, apenas nossos filhos saberão se as pesquisas terão resultado. Mas vale lembrar que quando Cristóvão Colombo propôs sua rota marítima, a maioria dos sábios da época foram contrários ao projeto e ele acabou descobrindo a América", disse Raimundo Mussi, gerente da missão brasileira, que está em Moscou para acertar os últimos detalhes do vôo com a Agência Espacial Russa.

Pontes deverá ser lançado ao espaço no dia 30, dentro de uma cápsula espacial russa Soyuz, ao lado do cosmonauta Pavel Vinogradov e do astronauta Jeffrey Williams. O astronauta brasileiro ficará oito dias na ISS, enquanto Vinogradov e Williams tomarão o lugar da atual tripulação pelos próximos seis meses. Durante sua estadia em órbita, Pontes estará encarregado de executar os experimentos enviados pelos cientistas brasileiros.

DETALHES

Ontem, os representantes brasileiros passaram o dia reunidos com a Agência Espacial Russa para definir detalhes sobre o contrato entre o Brasil e Moscou, além de repassar todos os passos que Pontes seguirá para o embarque na nave Soyuz. A partir do dia 18, Pontes e os demais astronautas ficarão em total isolamento. Eles falarão com a imprensa poucos dias antes da decolagem, mas através de um vidro.

Os dois governos também avaliaram como ocorrerá o resgate do astronauta brasileiro em sua volta à Terra. Pontes será resgatado em algum ponto do deserto do Casaquistão. "Não se sabe exatamente onde a nave cairá, mas fomos informados pelos russos que o brasileiro será resgatado com helicópteros", explicou Mussi. A AEB também incluirá um médico do País na missão que buscará Pontes.