Título: Brasil avança na exportação de papel cartão e 'cut size'
Autor: Andrea Vialli
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2006, Economia & Negócios, p. B10

Mercado interno fraco e maior competitividade dão fôlego às empresas

Grande produtor mundial de celulose - sétimo no ranking geral, com 10 milhões de toneladas/ano, e primeiro na produção de celulose de fibra curta, de eucalipto - o Brasil tem fincado posição também na exportação de papéis. Grandes empresas do setor estão apostando nas exportações como resposta ao fraco desempenho do mercado interno em 2005 e já direcionam investimentos com o objetivo de exportar mais.

É o caso da Klabin, uma das maiores fabricantes de papel e celulose do País, que lidera o setor de cartão, usado em embalagens. No mês passado, a empresa anunciou um investimento de R$ 1,5 bilhão na ampliação de sua fábrica de papel cartão em Telêmaco Borba (PR). A meta é clara: ampliar a atual produção de 700 mil toneladas/ano para 1,1 milhão de toneladas. A maior parte do investimento será em uma máquina de última geração que vai elevar a produção de papel cartão de 330 mil para 680 mil toneladas/ano.

Miguel Sampol, diretor-geral da empresa, diz que a meta da é que, com a ampliação, as exportações de papel passem a representar 40% das receitas. Hoje, as vendas externas representam em torno de 25%. "Temos tecnologia e competitividade para exportar produtos acabados, além de commodities", diz Sampol. "Por isso, vamos focar cada vez mais no grande mercado de cartões." O preço do cartão no mercado internacional é de cerca de US$ 800 a tonelada.

A Votorantim Celulose e Papel (VCP) também vem aumentando suas exportações de papel, embora ainda esteja estudando ampliar sua estrutura de produção. A empresa quer aumentar sua presença no mercado internacional com os papéis não-revestidos 'cut-size', os mais exportados, usados para imprimir e escrever. Só no último trimestre do ano passado, o volume de exportações de papel apresentou um incremento de 22% em relação ao mesmo período do ano passado.

Segundo Sérgio Vaz, diretor de negócios de papel d a VCP, as exportações foram "muito melhores" do que as vendas internas, especialmente no segundo semestre. Isso porque o fraco crescimento da economia em 2005 influenciou diretamente o consumo de papel. "Por causa do desaquecimento do mercado interno, os produtores, escaldados, vão exportar mais papel nesse primeiro trimestre", diz .

O executivo considera que, a médio e longo prazo, a tendência é que o Brasil continue exportando mais papel. Mas um incremento agressivo depende de mais maquinário, uma vez que a indústria opera no limite da capacidade instalada, da ordem de 2,3 milhões de toneladas/ano. Ele lembra, no entanto, que os custos logísticos pesam mais na exportação do papel do que da celulose. Mas a previsão de aumento para este mês, da ordem de 7%, no preço do cut-size, anima o executivo.

Na contramão dessa tendência, a Suzano Papel e Celulose vai concentrar seus investimentos na produção de celulose. A empresa anunciou investimentos da ordem de US$ 690 milhões para ampliar a produção de celulose na fábrica de Mucuri, na Bahia. No entanto, o aumento da demanda internacional por papel, de 3% ao ano, traz boas perspectivas para o papel brasileiro, altamente competitivo pelo fato de a produção ser baseada no eucalipto. "É estratégico exportar papel porque a diversificação reduz os riscos de volatilidade da companhia e é um importante canal de crescimento", diz André Dorf, diretor da Unidade Papel da Suzano.