Título: Fabricantes de TV se preparam para um novo recorde
Autor: Marcelo Rehder
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2006, Economia & Negócios, p. B3

Vendas de aparelhos, puxadas pela Copa do Mundo, devem somar 10,9 milhões de unidades este ano

Os fabricantes de televisores se preparam para bater todos os recordes de vendas neste ano de Copa do Mundo. A expectativa da Eletros, entidade que reúne empresas do setor, é de que os brasileiros comprem 10,9 milhões de TVs, o equivalente a 1,1 milhão de aparelhos a mais que o recorde anterior, registrado em 2005 (9,8 milhões de unidades). Se essa previsão se confirmar, representará um aumento de 12%. Esses números são comparáveis apenas aos registrados em 1996, auge do Plano Real, quando a indústria vendeu 8,5 milhões de televisores. "Voltamos a crescer, embora com atraso de dez anos", diz Paulo Saab, presidente da Eletros.

Além da Copa, Saab observa que o aumento na venda de televisores tem sido embalado por um conjunto de fatores, incluindo o barateamento e maior oferta de crédito, inflação baixa, crescimento do nível de emprego e o movimento de reposição dos aparelhos. "Como a vida útil de uma TV é de 11 anos, em média, está havendo uma substituição por aparelhos mais modernos e sofisticados", diz Roberto Goichmanh, gerente de Marketing da Gradiente. Para ele, isso explica boa parte do crescimento de 41,5% registrado nas vendas em 2004.

Além disso, este ano os brasileiros devem assistir aos jogos da Copa em produtos mais sofisticados e caros, como TVs com telas de plasma e de cristal líquido (LCD). As empresas estão apostando em duas frentes. Para os consumidores de renda menor, os produtos mais procurados são os de tela plana, principalmente de 29 polegadas, que já respondem por 20% do mercado e por mais de 50% do faturamento da indústria. As vendas do produto dobraram no ano passado e atingiram 2,2 milhões de unidades, enquanto o mercado de aparelhos com tela convencional, chamada bolinha, ficou praticamente estagnado. "O mercado de telas planas deve superar este ano os 4,5 milhões de unidades", diz Eduardo Mello, diretor da área de Eletrônicos de Consumo da Samsung.

Já os consumidores de maior poder aquisitivo têm procurado as telas de plasma e de LCD, cujos preços estão em queda. No Natal de 2004, uma TV com tela de plasma de 42 polegadas custava de R$ 22 mil a R$ 25 mil. Em dezembro do ano passado, o mesmo tipo de aparelho, com tecnologia mais avançada, custava entre R$ 10 mil e R$ 10,5 mil.

Levantamento da Eletros mostra que o preço dos televisores tem subido menos que o da cesta básica que teve, nos últimos 5 anos, alta de 59,66%, enquanto o preço médio dos televisores de 20 polegadas subiu 11,5%. Isso indica que o preço relativo de um televisor caiu 30%.

Toda essa movimentação já se refletiu no mercado de trabalho da Zona Franca de Manaus. De acordo com Waldemir Santana, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas, só no mês passado foram abertos mais de mil postos de trabalho nessas fábricas. Entre elas, Santana cita a LG, que contratou cerca de 200 pessoas desde o início do ano. A CCE admitiu 130 funcionários, enquanto a Panasonic abriu 85 vagas no mesmo período.

Na Philips, conforme o sindicalista, há planos de 220 novas contratações, nos próximos 15 dias. Já a Semp Toshiba admitiu os 600 trabalhadores temporários chamados para atender o crescimento das vendas no período do Natal. Além disso, a Semp terceirizou a montagem de placas até a Copa. O serviço passou a ser feito por 3 empresas, que empregam 200 pessoas cada.

Do lado dos fornecedores de peças e componentes nacionais, o aquecimento dos negócios já garantiu emprego para mais 500 pessoas. Mas os fabricantes se queixam de dificuldades para se abastecerem de insumos como tubos de imagem, capacitores, semicondutores e circuitos integrados. "É um gargalo, pois os fabricantes locais têm uma capacidade limitada de produção que não dá conta da demanda atual", diz Mello, da Samsung.

O problema chegou a tal ponto que várias montadoras, como é a Semp Toshiba, tiveram de recorrer ao mercado externo para driblar o desabastecimento de componentes de fabricação local com alguma vantagem competitiva em relação ao produto importado, apesar da desvalorização do dólar frente ao real.

Não é de estranhar, já que a fábrica da empresa em Manaus montou em janeiro 12% mais TVs que em outubro do ano passado - o pico de produção para o Natal. Na Philips, a produção está 10% superior à do início do ano passado.

"Estamos vendo 2006 com grande otimismo", diz José Fuentes, vice-presidente da Divisão de Eletrônicos de Consumo da Philips do Brasil. Uma das razões é que a multinacional holandesa é patrocinadora oficial da Copa da Alemanha. A Philips vai investir US$ 100 milhões para celebrar o evento e divulgar a marca. No Brasil, a empresa vai transformar o Jockey Clube de São Paulo na Vila da Copa. Numa área de 7,5 mil m2 serão montadas 11 tendas, representando os países que disputarão o campeonato. As partidas serão exibidas num telão de 120 m2. "Isso vai alavancar nossas vendas."

Na área de TVs, a previsão é de um crescimento de 25% no faturamento, em relação ao ano passado.