Título: Banco privado foca em crédito ao consumidor
Autor: Mariana Barbosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2006, Economia & Negócios, p. B1

Quando o governo determinou, em 2003, que os bancos deveriam destinar 2% dos depósitos à vista ao microcrédito, ou deixar o dinheiro depositado compulsoriamente no Banco Central, a maior parte dos bancos preferiu a segunda opção.

Após algumas modificações na lei, os recursos começaram a sair do compulsório. Em dezembro do ano passado, de um total de R$ 1,527 bilhão disponível, R$ 1,063 bilhão saiu do BC e foi emprestado pelos bancos. Mas quase todo esse recurso foi destinado à concessão de empréstimos ao consumidor de baixa renda, com taxa de 2% ao mês. Muito pouco foi destinado ao financiamento de atividades que geram emprego e renda, modalidade que inspirou a medida.

Apenas alguns poucos bancos privados resolveram se arriscar. O ABN Amro, por exemplo, destinou parte dos recursos para sua própria operação de microcrédito, o Real Microcrédito. Já o Bank Boston desenvolveu um programa alinhado com a sua fundação. "O microcrédito é uma ação da Fundação Bank Boston bancada com recursos do banco", explica o superintendente do banco, Rui Pereira Jorge. "Não estamos preocupados com o retorno financeiro das operações."

Depois de um ano de testes, em 2003, o Bank Boston resolveu destinar R$ 10 milhões ao microcrédito produtivo orientado, o que equivale a 40% dos 2% de depósitos à vista (R$ 25 milhões). "Esse foi o risco que assumimos para entrar nesse mercado e entender como ele funciona", diz Jorge. "Os 60% restantes ficarão no compulsório."

Os recursos do Bank Boston são repassados às Oscips de microcrédito produtivo, a taxas que variam de acordo com o risco da operação. Desde junho de 2004, o banco emprestou R$ 3,4 milhões para a Oscip Ceap Maranhão, que tem uma carteira ativa de R$ 2 milhões e 4.044 clientes. Outros R$ 2 milhões foram emprestados para a Associação de Crédito Popular de Belo Horizonte e até o final do mês outros R$ 2,5 milhões serão emprestados para a Ande de Recife. O banco leva 45 dias para a análise de risco.