Título: Desvio deve ficar pronto antes do início do feriado do Carnaval
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2006, Internacional, p. A10

O Viaduto 1, na rodovia Caracas-La Guaira, virou um elefante branco. Guardado por militares, rodeado de faixas com o alerta de "peligro" e sob o risco de desabamento, é usado apenas por pedestres e motoqueiros. Ao seu redor, no entanto, há uma intensa movimentação de máquinas e homens, empenhados na construção do desvio que permitirá a retomada do tráfego na rodovia. Rasgado na encosta da montanha e com dois quilômetros de extensão, deverá estar pronto no dia 26 de fevereiro, véspera do Carnaval, quando os caraquenhos descem em massa ao litoral.

Para cumprir o prazo, a empreiteira contratada pelo Ministério da Infra-Estrutura está trabalhando 24 horas por dia. De maneira geral, o governo agiu com rapidez depois do desastre. Com os cofres cheios por causa do alto preço do petróleo, ofereceu subsídios para os municípios da região litorânea, onde cerca de 30 mil pessoas vivem basicamente do turismo.

Também foi oferecida ajuda às empresas transportadoras e aos caminhoneiros, cujas atividades se encontram entre as mais prejudicadas. É possível ter uma idéia do que acontece com o setor a partir do caso da Cargill, empresa da área de alimentos que até janeiro movimentava 125 caminhões por dia na Caracas-La Guaira. Após o acidente, ela só consegue passar 7 por dia, de acordo com o informativo VenEconomia, que em sua edição de janeiro analisou o impacto do desastre.

Chávez procura minimizar as críticas de que seu governo ignorou os alertas sobre a iminência do desastre. Na semana passada, disse até que a responsabilidade deve ser atribuída ao golpe de 2002, quando foi afastado por 47 horas do governo. Isso teria atrasado as ações do Ministério da Infra-Estrutura.

O discurso de Chávez não consegue, no entanto, dissipar a idéia de que o caso reflete a ausência de planejamento. Na opinião de José Quintero, diretor da Procatia, entidade não-governamental que organiza projetos de desenvolvimento auto-sustentável para comunidades carentes de Caracas, a falta de planejamento é visível até na área social, que seria a prioridade de Chávez. "É visível a deterioração de hospitais e escolas", disse ao Estado. "Nem a coleta do lixo o governo consegue resolver."