Título: Gabeira defende tropas no país
Autor: José Maria Mayrink
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2006, Internacional, p. A9

'Retirar soldados é mais difícil do que enviar', diz

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) literalmente se engajou no contingente brasileiro desde que desembarcou no Haiti, na tarde de quinta-feira, como observador parlamentar das eleições de amanhã.

Usando capacete de aço e colete à prova de bala, ele acompanhou patrulhas pelas ruas tortuosas de Bel Air e avançou até a linha de frente de Cité Militaire, bem na fronteira com Cité Soleil, o bairro-favela mais violento e perigoso de Porto Príncipe atualmente patrulhado por tropas jordanianas.

"Eu me sinto desconfortável no exercício de minha profissão com capacete e colete, mas é uma exigência da segurança", disse Gabeira, depois de dois dias de incursões. Como jornalista, o deputado vai sempre armado de caneta, bloco e máquina fotográfica, para entrevistar e fotografar os haitianos. "As pessoas arregalam os olhos, de medo, quando me vêem apontando a câmara para elas", Gabeira, o ex-guerrilheiro que viajou do Brasil via Panamá, porque os EUA não lhe dão visto de entrada - ele participou do seqüestro de um embaixador americano no Rio em 1969 - defende a permanência das tropas brasileiras por algum tempo no Haiti.

"Se é difícil a decisão de enviar tropas para o exterior, mais difícil ainda é decidir pela retirada", observou o deputado. A questão de destinar verbas específicas para a missão é importante, segundo ele, porque o Brasil já gastou R$ 200 milhões com as tropas em Porto Príncipe, "mais de quatro vez do que foi gasto com a segurança no Rio (R$ 46 milhões) no mesmo período".

O comando do contingente brasileiro, de 1.200 homens, teme que haja incidentes em algumas áreas da capital, hoje à noite, véspera das eleições. Prevendo essa possibilidade e a ocorrência de distúrbios quando começarem a sair os resultados das urnas, na quarta-feira, a Minustah reforçou a vigilância em todo o país.

No sábado, o candidato René Préval, líder nas pesquisas de intenção de voto, cancelou um comício que faria no Campo de Marte, onde fica o Palácio Presidencial, com uma participação estimada de mais de 1 milhão de pessoas.

"Tive informações de que adversários meus pretendiam promover distúrbios para conturbar as eleições", justificou o candidato.