Título: Publicação de caricaturas divide jornais de todo mundo
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2006, Internacional, p. A8

As charges dinamarquesas satirizando o profeta Maomé dividiram as redações. Na Europa, editores da França, Alemanha, Espanha, Itália, Hungria e Holanda publicaram as imagens proibidas pelos muçulmanos. Por outro lado, quase toda a imprensa britânica decidiu não publicá-las. Os doze desenhos que apareceram originalmente na publicação dinamarquesa Jyllands-Posten, em setembro, incluíam um mostrando Maomé usando um turbante em forma de bomba.

"Pesamos as conseqüências e decidimos que as charges devem aparecer no Le Monde", disse Eric Fottorino, editor do diário. "Não foi uma decisão difícil, e já publicamos as charges três vezes até agora", disse Roger Koeppel, diretor do alemão Die Welt. "Esses desenhos agora têm uma importância política além de seu significado original", diz Koeppel.

Para Stuart Reid, editor da revista britânica The Spectator, as charges passaram dos limites. "Pode parecer covardia, mas consideramos que a publicação seria uma provocação desnecessária," disse Reid. "Liberdade de expressão significa também exercer bom gosto e não publicar algo que consideramos ofensivo." Em editorial, o Times de Londres defendeu a decisão de não mostrar as imagens: "A publicação das charges pode ser vista como uma resposta apropriada aos fanáticos que pediram a sua proibição. Mas publicá-las meses depois envolve um elemento de exibicionismo".

O International Herald Tribune, um dos primeiros jornais fora da Dinamarca a noticiar a polêmica, não publicou as charges. "Diferentemente de alguns jornais, não usamos as notícias para fazer declarações políticas", disse Michael Oreskes, editor-executivo do jornal.