Título: Pesquisa leva PSDB a discutir riscos de Serra
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2006, Nacional, p. A6

Apesar de resultado pior para Alckmin e da recuperação de Lula, partido avalia se vale a pena trocar 'certo pelo incerto' ao deixar a Prefeitura

A melhora nos índices de aprovação do governo e de intenção de voto atribuída ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, confirmada na última pesquisa Datafolha, levou ao PSDB um novo tema no debate sobre a escolha de seu representante na disputa pela Presidência. Insuflado especialmente por aliados do governador Geraldo Alckmin, o partido discute os riscos de "trocar o certo pelo duvidoso". Ou seja, o prefeito José Serra abandonaria a Prefeitura de São Paulo para encarar uma campanha duríssima contra Lula, que aos poucos retoma o favoritismo, apesar da crise do mensalão.

Somadas aos resultados do Ibope, há duas semanas, e do Datafolha, acendeu essa discussão a recente entrevista do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso à revista IstoÉ. "Para Alckmin está mais fácil, seu mandato está terminando", afirmou FHC. "Serra teria de enfrentar um buraco negro entre abandonar a prefeitura e vencer as eleições. Será que ele vai querer correr esse risco?"

Foi nesse cenário que, apesar de o governador aparecer 16 pontos atrás do presidente Lula, ao contrário da vantagem de um ponto que marca Serra sobre o petista, alckmistas enxergaram o resultado do Datafolha como parcialmente positivo.

De sua parte, o governador minimizou o impacto do levantamento. Fez questão de recomendar ao PSDB, mais uma vez, que calce as "sandálias da humildade" e se recusou a comentar a hipótese de o prefeito desistir da disputa. "Não respondo pelo Serra."

"Pesquisa retrata o momento", repetiu Alckmin, depois de inaugurar uma unidade do Centro de Integração da Cidadania, em Capão Redondo. "O presidente hoje é um monólogo, só ele tem acesso aos meios de comunicação, a hora que começar a campanha eleitoral na TV, em agosto, aí temos o contraditório." Sobre seus próprios índices, acha que tem um "bom" piso. "Aposto na mudança, o País não agüenta mais quatro anos de incompetência." O governador destacou ainda que trabalha para ser o candidato "do entendimento". Deseja uma prévia? "O que o partido resolver está bem resolvido", disse.

No fim da semana, Alckmin segue para o Rio de Janeiro. O roteiro inclui Campos, terra do pré-candidato do PMDB, Anthony Garotinho. No sábado esteve no Mato Grosso do Sul. "Se escolhido, serei um candidato pé na estrada. Quero ver os problemas em todo o País", afirmou.

Líder do governo na Assembléia Legislativa, o deputado Edson Aparecido lembrou que Alckmin alcançou 20% das intenções de voto, mas praticamente a metade do País ainda não o conhece. "Seu potencial de crescimento é muito grande", disse.

Para o líder do PSDB na Câmara, deputado Alberto Goldman (SP), ligado a Serra, do ponto de vista pessoal do prefeito, faz sentido a tese de que pode não valer a pena "trocar o certo pelo duvidoso". "Mas do ponto de vista do partido e do que deseja a sociedade, a interpretação pode ser oposta", ressaltou, referindo-se ao fato de que o prefeito alcança hoje os melhores índices do PSDB contra a reeleição de Lula.