Título: Assessor do presidente critica líderes do PT
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2006, Nacional, p. A6
Comentários estão num estudo feito por pesquisadoras britânicas
O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, considera que o PT perdeu seu foco e passou a dar mais importância à montagem de uma máquina partidária do que às políticas de governo que implantaria.
A afirmação faz parte do estudo No Olho do Furacão - militantes de esquerda discutem a crise brasileira, patrocinado pelo Transnational Institute, um instituto de pesquisa sobre temas ligados à esquerda, com sede na Holanda.
Na análise, feita para entender como o PT, considerado promissor pela comunidade internacional, foi engolido por um escândalo de corrupção, o assessor especial não poupa críticas ao partido e ao governo. Garcia também sustenta que os líderes petistas lidaram com a crise de maneira irresponsável, sem respeitar inclusive as próprias tendências internas ou grupos aos quais são ligados.
O assessor especial faz menção a gastos elevados dentro do partido, mesmo antes da conquista da presidência. "Ficou muito fácil conseguir dinheiro. Todos os líderes tinham secretárias bem pagas, com telefones. Tínhamos uma sede luxuosa em Brasília, 14 carros à disposição dos líderes nacionais, e por aí vai. Era insano", afirma. "Era muito dinheiro disponível."
Sobre o escândalo do mensalão, Garcia comenta que acha "bem possível" que tenha havido corrupção e diz que em alguns casos ela já foi detectada. Um problema "seriíssimo", na opinião dele, é a possibilidade de o partido ter construído uma máquina dentro da estrutura do governo, "não apenas para pegar dinheiro do Estado, mas também para usar o poder do Estado para captar recursos da iniciativa privada".
O assessor especial acredita que o PT estava fraco politicamente e por isso foi atacado pela "infecção oportunista" da corrupção. Ele não acha, porém, que isso seja uma desculpa para o ocorrido e volta a mostrar insatisfação com os líderes do partido. "O partido deve uma explicação à sociedade e os seus líderes devem uma explicação aos ativistas - a todos nós", diz.
As alianças feitas por Lula com a iniciativa privada durante a campanha também foram criticadas . "Lula fez tanto esforço para ganhar o apoio destes grupos que quando chegou ao governo teve medo de fazer o que poderia." Garcia ainda evocou um slogan usado na época do governo de Salvador Allende no Chile para descrever o PT. Os chilenos diziam: "É um governo de merda, mas é o meu governo". Já para Garcia, o PT têm "lideranças de merda", mas é o seu partido.
O estudo sobre o PT, que contou com o apoio da pesquisadora Sue Branford além de Hilary Wainwright, a quem Garcia concedeu sua entrevista, reúne depoimentos de 16 personagens que têm ou já tiveram ligação com o partido.
Entre eles estão o ex-petista Chico de Oliveira e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. A íntegra da pesquisa está no site www.tni.org.