Título: Sereno tenta eleger bancada no Rio
Autor: Wilson Tosta
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2006, Nacional, p. A6

Ex-assessor de Dirceu, abatido pela crise do mensalão, quer voltar à cena e influir na eleição de deputados do PT

Um dos principais acusados pela oposição de envolvimento em supostas irregularidades no governo Lula, o economista e ex-assessor da Casa Civil da Presidência Marcelo Sereno indica que pretende influir na eleição de deputados petistas no Rio, garantindo bancada da sua confiança. Discretamente, Sereno articula apoios a uma lista de candidatos, para mobilizar na campanha a rede de contatos financeiros e políticos montada para sua candidatura a deputado federal, nocauteada pelo escândalo.

Entre seus preferidos estão o vereador Edson Santos, que tentará chegar à Câmara, o ex-secretário de Fazenda Nelson Rocha, pré-candidato a deputado estadual, e outros integrantes do PT fluminense. "Acredito que (receber apoio de Sereno) é tranqüilo, não vejo nenhum problema", diz Santos. "Até que se prove o contrário, as pessoas são inocentes."

O vereador reconhece que conversa com freqüência com ele. "Sou dirigente nacional do PT, as conversas que temos tratam do partido e da situação dele." Segundo o parlamentar, "todo mundo que é militante", inclusive Sereno, vai participar da campanha.

"Agora, o nível de participação vai depender das dificuldades que venham a ser criadas para o presidente Lula." Santos garante que Sereno não concorrerá este ano. "Não tem clima. Ele ficou muito vulnerável." O vereador afirma desconhecer a lista de candidatos.

DENÚNCIAS

Um pré-candidato do PT a deputado estadual, sob anonimato, conta que foi procurado por pessoas ligadas ao ex-assessor. "Soube que eles têm uma relação de candidatos do Marcelo", diz ele, explicando que seriam umas 15 pessoas. Da relação de petistas que Sereno quer apoiar fazem parte, de acordo com o pré-candidato, o deputado estadual Gilberto Palmares e um vereador de Niterói, Rodrigo Neves.

Outra fonte do PT conta que o ex-assessor, apesar de não ter mais cargo público, mantém contatos com prefeituras no interior fluminense. Nelas, no auge da sua influência, Sereno era elemento central para contatos com o governo.

O economista, que assessorou o então ministro José Dirceu na Casa Civil, é acusado por PSDB e PFL de ter indicado pessoas para cargos de fundos de pensão de estatais, como o Nucleos, das Indústrias Nucleares do Brasil, e o Refer, da Rede Ferroviária Federal. Outro fundo de pensão em que o acusam de ter tido influência é a Prece, dos empregados da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), estatal cujo Conselho de Administração integrou no governo da petista Benedita da Silva em 2002.

Os fundos teriam tido prejuízos em operações supostamente determinadas por indicados de Sereno. Por meio de assessores e advogados, ele tem sistematicamente negado participação nas nomeações e nas irregularidades.

DESISTÊNCIA

Alguns meses atrás, no auge do escândalo, Sereno teve de desistir de concorrer a uma vaga no diretório fluminense do PT. Assumiu comportamento discreta e sumiu dos eventos públicos do partido.