Título: Vendas sobem só 2% e retratam frustração industrial, diz CNI
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2006, Economia & Negócios, p. B4

A indústria perdeu fôlego em 2005, segundo os dados divulgados ontem no boletim Indicadores Industriais, da Confederação Nacional da Indústria (CNI). As vendas reais do setor cresceram só 2,03% no ano, despencando de uma expansão de 15,11% registrada em 2004. Para a CNI, o comportamento das vendas industriais é "o retrato da frustração" que viveu o setor no ano passado.

A indústria fechou dezembro operando com 80,7% de sua capacidade instalada. Foi o quarto trimestre de quedas seguidas desse indicador, segundo a pesquisa da CNI. Essa redução é explicada principalmente pelo fato de as indústrias terem investido, ao longo de 2004, na expansão de suas plantas produtivas. Esses projetos ficaram prontos ao longo de 2005, ampliando a capacidade instalada do País.

"Nos últimos meses, a indústria está andando de lado", resumiu o chefe da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, ao ilustrar a conclusão de que a atividade industrial ficou praticamente estagnada. O fato de a indústria não estar usando toda a estrutura disponível para produzir, explicou o economista, não é sinal de preocupação, mas de frustração. Para ele, o ano passado foi de maturação dos investimentos feitos em 2004 para ampliar a capacidade produtiva já que as expectativas sobre 2005 eram muito altas.

No entanto, como houve um freio de vendas e faturamento em razão dos aperto nos juros, do alto custo do crédito e da taxa de câmbio, os empresários da indústria preferiram segurar novos investimentos. "As horas trabalhadas na indústria, que apesar de tudo cresceram 4,54% no ano passado, também confirmam essa análise", completou Castelo Branco.

Segundo a CNI, a taxa de câmbio também afetou negativamente as vendas. A valorização de 16,8% do real frente ao dólar no ano passado reduziu o faturamento das empresas exportadoras, já que recebem pela produção vendida no exterior em moeda americana. A taxa média de câmbio no ano passado foi R$ 2,44 ante uma média de R$ 2,93 no ano anterior.

Para elaborar o boletim, a CNI ouviu 3 mil grandes e médias empresas distribuídas em 12 Estados.

A falta de dinamismo da indústria começou a se refletir no emprego industrial a partir do segundo semestre do ano passado, disse o economista da CNI. Mas, no ano, o forte crescimento de 2004 e um rescaldo do primeiro trimestre de 2005 puxaram para cima as médias dos indicadores referentes a emprego e renda.

Os salários reais pagos em 2005, por exemplo, tiveram crescimento de 8,10% no ano, mantendo a mesma tendência de alta do ano anterior. Entretanto os motivos para os dois anos seguidos de crescimento são diferentes, disse o coordenador do boletim, Paulo Mol.

No ano passado, o aumento da massa de salários refletiu a queda da inflação, do nível de 8%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), para 5,7% em 2005. O IPCA é o índice usado nas metas de inflação do governo. Quanto menor a inflação, maior o ganho aquisitivo portanto maior o salário real. "Houve um efeito muito favorável sobre o poder de compra dos salários", resumiu Mol.

Já em 2004, a elevação de 9,02% na massa de salários foi motivada pelo maior dinamismo do setor industrial que proporcionou abertura de novas ocupações. O número de trabalhadores do setor apresentou no ano um crescimento de 4,18%, mas o resultado foi bastante influenciado pelo ritmo forte do início do ano já que em dezembro, na comparação com o mês anterior, o indicador de pessoal empregado foi estável, em 0,02%.