Título: Brasil estuda uso de salvaguarda
Autor: Fabíola Salvador e Jane Miklasevicius
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2006, Economia & Negócios, p. B5

O Brasil avalia a possibilidade de restringir a importação de produtos argentinos como trigo, arroz e vinho, utilizando o Mecanismo de Adaptação Competitiva (MAC). O assunto está em análise na Secretaria de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura. Diante da avalanche de importações desses produtos da Argentina, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, teria concordado com a proposta de limitar as importações.

A adoção desse mecanismo, acertado na semana passada entre os governos da Argentina e do Brasil, permite limitar as importações quando houver grande desequilíbrio que afete o comércio ou ameace a produção local. Sua criação causou forte reação contrária no setor industrial brasileiro, que já vinha sendo alvo de medidas unilaterais adotadas pelos argentinos para restringir as importações. Segundo o Ministério da Agricultura, não há prazo para um posicionamento final.

EQUÍVOCO

A proposta não foi bem recebida pela indústria moageira de trigo. O diretor-presidente do Moinho Pacífico e porta-voz da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Lawrence Pih, considerou um equívoco a idéia.

Pih lembra que o Brasil não é auto-suficiente no abastecimento de trigo nem competitivo na produção. Nos últimos anos, tem importado cerca de 50% da matéria-prima usada para fabricar a farinha, e mais de 95% do volume vem da Argentina.

Neste ano-safra, por causa de quebra na produção, a importação crescerá para 55% das necessidades da indústria, algo em torno de 6 milhões de toneladas. "Salvaguarda significa trigo mais caro", disse Pih. Segundo ele, o Brasil importa da Argentina por necessidade, já que o país vizinho produz cereal específico para pães e massas.

No Brasil, o Paraná tem a maior produção de trigo para pão e o Rio Grande do Sul cultiva mais trigo brando, para biscoitos. "O trigo nacional não é equivalente. Se não importarmos da Argentina, teremos de importar de outro lugar."

A notícia de que o Brasil pode adotar salvaguardas contra o trigo argentino vem no momento em que os preços do produto estão em alta no mercado internacional, motivada por movimentos especulativos nas bolsas, quebra de produção no Leste Europeu e problemas climáticos nos Estados Unidos.

Além da Argentina, o Brasil também importa trigo dos Estados Unidos, mas o trigo argentino é cerca de US$ 65 por tonelada mais barato.