Título: Câmara é novo palco na escolha da TV digital
Autor: Gerusa Marques
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2006, Economia & Negócios, p. B6

A pressão para definir a escolha do padrão de TV digital do País entra na sua reta final. Os técnicos dão continuidade a uma série de reuniões para discutir as promessas de vantagens comerciais de cada um dos padrões - japonês, europeu e americano -, mas o ponto alto será a reunião, no plenário da Câmara, com os presidentes das empresas de telefonia celular, empresários do setor eletroeletrônico e da área de comunicações e representantes da sociedade civil.

Os parlamentares marcam sua participação nas discussões que serão resumidas em um documento a ser entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que possa tomar a decisão e fazer "o gol de placa", prometido pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa. Lula deve divulgar a decisão na próxima semana, quando retorna de uma viagem a países africanos.

Os dirigentes das empresas de telefonia deixarão o plenário da Câmara e seguirão em direção à Casa Civil, onde serão recebidos pela ministra Dilma Rousseff. A disputa pelo modelo de TV digital é de interesse das empresas de telefonia porque, dependendo da escolha, não poderão interferir na transmissão de programas de T V por celulares. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, trabalha com a expectativa de que até sexta-feira os estudos e consultas estarão concluídos para serem submetidos a Lula.

Os parlamentares gostariam que a definição do modelo de TV digital ocorresse somente em junho, mas Hélio Costa insiste na necessidade de fazer a escolha ainda este mês. O ministro pondera que, por causa das adaptações de tecnologia, as emissoras necessitarão de alguns meses para implantar o projeto e assegurar a primeira transmissão em 7 de setembro, data que Lula quer comemorar com o lançamento da TV digital no País.

A semana passada foi caracterizada pela exposição dos modelos. A preferência deve recair em japoneses ou europeus. A opção pelo modelo americano foi praticamente descartada por Hélio Costa, pois exige um maior nível de investimento. Hoje, seus representantes vão explicar o modelo adotado nos Estados Unidos e tentar superar as vantagens oferecidas por japoneses e europeus.

A discussão do modelo passa, também, pelas contrapartidas oferecidas. A expectativa e interesse na decisão do Brasil é significativa, pois o modelo brasileiro deve orientar as decisões de outros países latino-americanos.

Os japoneses já ofereceram vantagens econômicas, como financiamento e troca de tecnologia, e enfrentaram a reação dos europeus, que praticamente "cobriram" a proposta japonesa. Segundo Costa, a tecnologia americana não atende a duas das principais exigências do governo brasileiro: a portabilidade e a mobilidade, que permitem a recepção de imagens em aparelhos portáteis, como o celular, e em movimento, como em um veículo. Além disso, é necessário que haja alta definição de imagens e interatividade, para que a televisão possa ser usada em funções próprias da internet, como acessar um e-mail.

Os europeus, assim com os japoneses, atendem a essas exigências, mas, segundo Costa, precisariam de mais um canal, além dos 6 megahertz permitidos pelo governo. Os europeus dizem que já operam em 6 megahertz, em Taiwan. Mesmo assim, será necessário, segundo Costa, que eles façam novos testes para provar que o modelo europeu é competitivo.