Título: Empresário nega versão de Palocci à CPI para uso de avião particular
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2006, Nacional, p. A4

Uma carta do empresário José Roberto Colnaghi recebida ontem pela CPI dos Bingos pôs sob suspeita afirmações feitas pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Ao depor dia 26, Palocci disse que em 2003 viajou para um evento partidário em São Paulo e o PT pagou o avião, que era de Colnaghi. Na carta, o empresário rebate a afirmação. "A referida aeronave, que é utilizada para minhas atividades industriais e de lazer, jamais foi locada a terceiros, nem cobrado qualquer reembolso por todos quantos nela já viajaram."

Palocci esteve em São Paulo na época para participar do ato de filiação do prefeito de Ribeirão Preto, Gilberto Maggioni, ao PT. Na CPI, ele foi categórico ao dizer que foi uma viagem "de interesse partidário, com avião particular". "O PT disponibilizou um avião particular, alugou um avião para poder fazer a viagem", insistiu.

Em dezembro, ele teve de depor na Comissão de Ética Pública, que considerou "suficientes" e "satisfatórias" suas explicações sobre o uso do avião de Colnaghi. A resolução 77 do órgão proíbe que autoridades públicas usem meio de transporte cedido por particulares. O PT assumiu que alugou o vôo. Há suspeita de que se trate do mesmo avião Sêneca prefixo PT-RSX que, um ano antes, teria transportado de Brasília para Campinas a doação de US$ 3 milhões que Cuba teria feito para a campanha de Lula em 2002.

Para o senador José Jorge (PFL-PE), ficou claro que o "ministro não falou a verdade" em seu depoimento. "Ele disse com todas as letras que a viagem foi paga pelo PT." Por iniciativa do senador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), a CPI vai votar hoje um requerimento para perguntar a Palocci se falou a verdade no depoimento e, portanto, quer mantê-lo na íntegra, ou se quer alterar o que disse.

Colnaghi diz na carta que estava dando as explicações porque soube que seria questionado sobre o que já dissera à CPI em seu depoimento. "Faço-o com a finalidade de reafirmar tudo quanto declarei à CPI." A transcrição das palavras do ministro mostra que ele foi igualmente enfático ao afirmar que "o PT soltou uma nota assumindo a responsabilidade dessa viagem, porque era uma viagem de interesse partidário".