Título: Virgílio diz que PT rouba; Mercadante ataca era FHC
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/02/2006, Nacional, p. A6

As críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ao governo e ao PT provocaram ontem bate-boca na tribuna do Senado. A oposição endossou as afirmações de FHC, para quem "a ética do PT é roubar" . "Nunca se roubou tanto nesse País, essa é que é a verdade", atacou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).

Em tom de campanha eleitoral, Virgílio disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "perdeu a condição de ser candidato majoritário". Numa guerra de discursos e apartes - na qual os dois lados invocavam o direito de réplica -, o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), ocupou a tribuna para reagir.

"A oposição vai ter de enfrentar o debate do que foram os três anos do governo Lula até agora com os oito anos de Fernando Henrique", gritou Mercadante. "Digam o que vão fazer de diferente!", insistiu.

Mercadante seguiu, na prática, estratégia traçada no Palácio do Planalto, que é a de comparar a administração do PT com a do PSDB. Agora, o novo mote governista é insistir que tanto o prefeito José Serra como o governador Geraldo Alckmin - os dois postulantes do PSDB à Presidência - são "mais do mesmo".

Para não pôr mais lenha na fogueira, Mercadante não usou exatamente esse termo. Disse apenas que a oposição tem "dificuldade" de debater as "realizações" do governo. Mas foi cauteloso ao ser desafiado por Virgílio a comprovar a veracidade da chamada "lista de Furnas". Chegou mesmo a admitir que a lista pode ser falsa. Divulgados pelo lobista Nilton Monteiro, os papéis citam políticos de quase todos os partidos - especialmente do PSDB e do PFL -, que teriam recebido dinheiro de caixa 2 da estatal Furnas em suas campanhas. Não há nenhum nome do PT.

"Torço para que isso tudo não seja verdade, para que a lista não tenha procedência e para que esse episódio traga responsabilidade aos homens públicos, principalmente aos que acusam sem provas", afirmou Mercadante. "Não podemos fazer acusação sem que tudo seja investigado."

Sentado à primeira fileira, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) pediu um aparte. "Eu posso garantir que a lista de Furnas é falsa, mas uma coisa é importante: Vossa Excelência já acredita em Roberto Jefferson", disse ACM, numa referência ao deputado cassado do PTB que denunciou o "mensalão" - esquema de pagamento de mesada a parlamentares em troca de apoio ao governo no Congresso.

"Não ponha palavras na minha boca", respondeu Mercadante, em tom irritado. "Lamentavelmente, algumas denúncias que ele fez em relação ao PT tinham procedência; outras, não."

No revezamento de discursos, Virgílio voltou a bater duro. "A reeleição do presidente Lula significa a volta do José Dirceu, do Delúbio Soares e do Sílvio Land Rover Pereira", provocou o líder do PSDB, ao mencionar o ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado, o ex-tesoureiro e o ex-secretário-geral do PT. Todos caíram após as denúncias de Jefferson.

Virgílio negou que a oposição, acuada pela lista de Furnas, tenha feito um "acordão" com o governo para que as CPIs terminem em pizza. "Nós queremos que venham aqui depor Dimas Toledo (ex-diretor de Furnas), Duda Mendonça, Roberto Teixeira, Paulo Okamotto", concordou ACM, acentuando o penúltimo "o".