Título: Crescimento sério. Nada de pessimismo
Autor: Antonio Ermírio de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/01/2006, Outras Opiniões, p. A11

Um dos mais graves problemas da União Européia, Japão, Coréia do Sul e outros países avançados é o excesso de idosos em relação aos jovens. Isso tem um impacto negativo sobre as finanças públicas, pois as pessoas que não mais trabalham passam a ser graves fontes de despesas com saúde, aposentadoria e cuidados especiais. Todo país precisa manter um equilíbrio entre a população ativa (que trabalha) e a inativa (que parou de trabalhar). A primeira gera renda; a segunda consome recursos.

A principal razão do desequilíbrio apontado - com raras exceções - é a reduzida taxa de natalidade do mundo desenvolvido. No Japão, por exemplo, nasce apenas 1,3 filho por mulher (em média) - o que não dá nem para manter a população do tamanho que está. Ao contrário, a população encolhe a cada ano e envelhece a cada dia, o que dispara fortes pressões nas finanças públicas.

O Brasil vai para o mesmo caminho, mas isso levará mais tempo. Entre nós, também, a taxa de fecundidade baixou nas ultimas três décadas. Mas, ainda está em torno de 2,1 filhos por mulher - o que dá para manter um grande número de jovens que, potencialmente, podem trabalhar e gerar renda.

Segundo depoimentos esclarecedores de vários demógrafos ouvidos pela Folha de São Paulo, o Brasil vai continuar com um bom numero de jovens ativos até 2030. A partir daquele ano, a população ativa começará a encolher e as despesas com os idosos dispararão. Ou seja, temos um quarto de século para tirar proveito de uma situação que a União Européia, o Japão, a Coréia do Sul e outros países já não têm mais. Durante esse período teremos de acumular recursos para fazer frente às despesas que advirão dali para frente.

Na referida matéria da Folha, os demógrafos argumentam que o Brasil está perdendo a oportunidade de fazer esse importante 'pé-de-meia' porque o crescimento econômico é tão anêmico que nem dá para cobrir as despesas dos dias correntes (''Brasil desperdiça ajuda da demografia'', Folha de São Paulo, 22/01/2006).

Trata-se de um alerta muito grave e que exige uma reviravolta no nosso ritmo de crescimento econômico. Já não é suficiente crescer para absorver os jovens que entram no mercado de trabalho - o que em si está sendo difícil. O desafio é o de gerar empregos e renda suficientes para manter as necessidades atuais e fazer a poupança para as despesas futuras. Com uma frase muito sintética e ao mesmo tempo muito densa a demógrafa Ana Amélia Camarano diz: ''A demografia está fazendo sua parte. É preciso que a economia faça a dela''.

Por isso, já não há mais o que esperar para se realizar as reformas estruturais das quais tanto se fala e nada se faz. É da reorganização da nossa economia e da estimulação dos investimentos que podemos pensar em dias menos turbulentos para os nossos netos.