Título: Manifestante é morto no Haiti
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2006, Internacional, p. A12

O ministro de Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, pediu ontem à secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, que organize uma reunião do Conselho de Segurança (CS) da ONU para discutir a tensa situação pós-eleitor al no Haiti. A presidência rotativa do CS está agora com os EUA, por isso Amorim tratou do assunto com Condoleezza, por telefone.

Segundo porta-vozes do Itamaraty, Amorim propôs que o CS discuta os novos casos de violência surgidos depois da divulgação dos últimos boletins da eleição presidencial, que apontam vitória do ex-presidente René Préval, mas indicam que haverá um segundo turno.

Ontem, soldados das forças de paz abriram fogo contra manifestantes, matando pelo menos um e ferindo quatro, disseram testemunhas. A força da ONU para a est abilização do Haiti - que está sob o comando do Brasil - informou que os soldados dispararam para o ar, não contra partidários de Préval. Os manifestantes ergueram barricadas em chamas em várias partes de Porto Príncipe, paralisando a capital. Também invadiram o hotel onde os membros do Conselho Eleitoral Provisório (CEP) estavam anunciando os resultados das eleições do dia 7. Amorim comentou em Brasília que é preciso agir com "prudência" diante das circunstâncias.

Os partidários de Préval querem que ele seja declarado presidente, apesar de não ter obtido os 50% mais 1 de votos necessários para ser eleito no primeiro turno. Apurados 90% dos votos, Préval tinha 48,7%. Seu rival mais próximo, o também ex-presidente Leslie Manigat, tinha 11,8%, e o empresário Charles Baker, 7,9% dos votos.

Os violentos protestos começaram depois que um membro do CEP, Pierre Richard Duchemin, denunciou domingo fraude na eleições. Segundo ele, "houve um certo grau de manipulação dos resultados do pleito". Ele disse que teve rejeitado seu acesso à informação sobre o processo de tabulação e pediu uma investigação. "Há um esforço para impedir que as pessoas façam perguntas", disse.

Segundo testemunhas, soldados jordanianos das forças de paz abriram fogo contra a multidão no bairro Carrefour Fleuriot, norte da capital. A vítima, um jovem identificado apenas como Júnior pelas testemunhas, vestia uma camiseta com a foto de Préval.

Em Pétion Ville, nas colinas que rodeiam Porto Príncipe, centenas de manifestantes invadiram o elegante Hotel Montana, acusando o CEP de manipular a apuração de votos para evitar que Préval vença o primeiro turno. Os partidários de Préval bloquearam várias ruas da capital. As escolas não funcionaram ontem e a ONU aconselhou seus funcionários a permanecerem em casa por causa dos distúrbios.

O presidente eleito substituirá o governo interino instalado após a queda do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide em uma sangrenta rebelião dois anos atrás.

Dos 2,2 milhões de votos depositados, cerca de 125 mil foram declarados inválidos por causa de irregularidades, aumentando as suspeitas, entre os partidários de Préval, de manipulação dos resultados. Quando os números preliminares foram anunciados na semana passada, Préval tinha 61%, levando a acreditar-se que venceria com folga, evitando um segundo turno, em 19 de março.