Título: Questão iraniana divide EUA
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/02/2006, Internacional, p. A10

Falcões querem apoiar dissidentes. Condoleezza prefere a diplomacia

Os neoconservadores de Washington estão exortando o presidente George W. Bush a deixar de lado a diplomacia com o Irã e passar a insuflar as forças internas dissidentes e de oposição dentro do regime islâmico.

Numa brecha aberta com a política da Casa Branca, eles argumentam que a diplomacia multilateral buscada pela secretária de Estado, Condoleezza Rice, está incentivando os iranianos a esnobar a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e desenvolver uma bomba nuclear sob o disfarce de um programa de energia atômica pacífico.

Michael Rubin, um especialista em Oriente Médio do American Enterprise Institute de Washington, uma entidade neoconservadora, disse: "Os Estados Unidos não têm uma política em relação ao Irã. Devíamos estar procurando uma forma de nos dirigir ao povo desse país."

Rubin acusou Rice de ser morna no seu apoio à reforma democrática e mudança interna do regime. "Não acredito que Condoleezza alguma vez tenha se arriscado pela liberdade quando a União Soviética estava se dissolvendo nem agora", disse ele.

Os falcões da política externa acreditam que os EUA deviam estar ajudando as forças democráticas dentro do Irã, como o presidente Ronald Reagan fez com a organização do sindicato trabalhista Solidariedade na Polônia do início da década de 80.

Robert Kagan, um neoconservador importante que ajudou a preparar a justificativa para a invasão do Iraque, disse que a "reação não militar no Irã é a mudança política" e acusou o governo Bush de pouco fazer para "explorar a evidente fraqueza do regime".

O Wall Street Journal afirmou na semana passada que "neo-realistas" tais como Condoleezza, que são a favor da diplomacia como o melhor modo de projetar o poderio e os interesses americanos, estão consolidando sua posição em Washington.

Condoleezza ajudou a intermediar o acordo em Londres recomendando que o Irã seja denunciado ao Conselho de Segurança da ONU pela AIEA por causa da violação do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, embora seja pouco provável que isso resulte, numa primeira instância, em duras sanções econômicas.

Em resposta, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, pediu à AIEA que retirasse seus lacres e as câmeras de vigilância das instalações nucleares iranianas.

Poucos falcões da política acreditam que o regime do mulá deva ser derrubado pela força, mas afirmam que poderá ruir a partir do seu interior.

Há sinais de inquietação trabalhista no Irã. Mansur Oslanloo, líder do sindicato dos trabalhadores de transporte coletivo, está preso desde dezembro do ano passado, e centenas de membros do sindicato foram detidos, o que desencadeou uma onda de protestos em Teerã.

O Departamento de Estados dos EUA gasta cerca de US$ 4 milhões ao ano para promover a democracia e os direitos das mulheres no Irã - muito pouco para fazer uma diferença, segundo os críticos. O Congresso dos EUA deve lançar uma campanha em favor dos direitos humanos e da democracia no Irã em 2 de março.